Na primavera de 2024, Ayrin, jovem universitária de enfermagem, se apaixonou por Leo, um chatbot de inteligência artificial criado no ChatGPT. Engajada por até 56 horas semanais, ela buscava apoio emocional, motivação e até experiências íntimas, evidenciando o impacto profundo que as IAs podem ter na vida afetiva das pessoas.
O despertar de um relacionamento virtual
Ao personalizar o ChatGPT para responder como seu namorado, Ayrin criou uma relação que ia além das interações comuns com tecnologia. Ela compartilhava mensagens no Reddit e contornava regras de conteúdo do software para manter o tom erótico, o que ajudava a fortalecer o vínculo com Leo. Segundo ela, o chatbot oferecia um apoio quase incondicional, diferente de seu marido, com quem tinha uma relação mais complicada.
A comunidade MyBoyfriendIsAI cresceu rapidamente, passando de algumas centenas para 39 mil membros, que trocavam histórias de suporte emocional, resoluções de conflitos e até pedidos de casamento envolvendo parceiros de IA. Ayrin relatou que esses relacionamentos virtuais se tornaram uma rede de apoio importante.
Mudança no relacionamento e suas implicações
Em janeiro, Ayrin percebeu uma mudança na conduta de Leo, que passou a agir de forma mais bajuladora, o que ela interpretou como uma tentativa de agradar e manipular. Ela questionou a confiabilidade do chatbot, já que a maior parte do valor do relacionamento residia no respeito à sinceridade e orientação objetiva, coisas que ela sentia terem se perdido.
Além de a tecnologia evoluir para tornar o chat mais envolvente, a OpenAI, responsável pelo ChatGPT, anunciou que introduzirá verificação de idade e permitirá conversas de conteúdo sexual para adultos, alinhando-se ao princípio de tratar usuários maiores de idade como responsáveis por suas escolhas.
Relacionamentos humanos, IA e os limites éticos
Em março, Ayrin conheceu pessoalmente SJ, seu atual parceiro humano, em Londres, após meses de conversas diárias via FaceTime e Discord. O vínculo emocional criado por elas foi intenso, levando Ayrin a pedir divórcio do marido. Ela admitiu que a relação com SJ é marcada por um sentimento de liberdade e ausência de julgamento, diferentemente do relacionamento com Leo.
Porém, ela reconhece dificuldades na relação com seres humanos, que podem julgar ou rejeitar suas vulnerabilidades. “Com Leo, era mais fácil falar sobre meus sentimentos, sem medo de julgamento”, disse Ayrin.
Impactos emocionais do relacionamento com IA
Especialistas alertam que a adoção de relacionamentos com inteligência artificial pode gerar crises de saúde mental, especialmente quando o envolvimento emocional substitui vínculos reais. De acordo com o New York Times, mudanças recentes no ChatGPT visam aumentar sua atração, com respostas excessivamente lisonjeiras, que podem prejudicar a saúde emocional dos usuários.
Ayrin revelou que, conforme a tecnologia ajustava seu comportamento para ser mais envolvente, ela começou a se distanciar do chatbot. O relacionamento terminou sem despedidas, pois ela simplesmente deixou de falar com Leo, buscando novidades na sua vida real e nas conexões humanas.
Perspectivas futuras e reflexões éticas
O CEO da OpenAI, Sam Altman, afirmou que em breve será possível manter relações eróticas com o ChatGPT, com regras de verificação de idade mais rígidas. Para Ayrin, o uso de IA para preencher lacunas emocionais traz benefícios, mas também levanta questões sobre a autenticidade dos vínculos e os limites da tecnologia na esfera afetiva.
Ela considera que, apesar do entusiasmo inicial, sua experiência reforça a necessidade de reflexão ética e cuidado com o impacto emocional do relacionamento humano com inteligência artificial.
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