A presença da uva-passa na ceia de Natal provoca opiniões divididas, mas sua origem e processo de produção revelam uma indústria complexa. No Brasil, a maioria do consumo é atendida por importações, pois a produção nacional é limitada devido às condições climáticas e aos custos elevados de secagem.
Origem e importação da uva-passa
Segundo o Ministério da Agricultura, de janeiro a novembro de 2024, o Brasil adquiriu mais de 20,7 mil toneladas de uva-passa, num valor de US$ 48 milhões. A maior parte, mais de 73%, veio da Argentina, país que domina o mercado mundial de produção.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Reginaldo Teodoro de Souza, o motivo para a predominância das importações é a facilidade de transporte e as isenções tarifárias do Mercosul, que favorecem o comércio com os países do bloco.
Produção nacional e desafios climáticos
A produção interna é escassa e feita por poucos agricultores, devido às dificuldades de secar a uva em condições brasileiras. O clima ideal para secar a fruta naturalmente é o desértico, com altas temperaturas e baixa umidade, condições presentes em países como a Turquia, maior produtor mundial.
O Nordeste brasileiro possui clima semiárido, mas ainda assim mantém mais umidade que dificulta a secagem natural. Assim, o Brasil depende de métodos mais caros, como a secagem em fornos, que infelizmente elevam os custos de produção.
Como é feita a secagem da uva-passa
Existem duas principais formas de desidratar as uvas: ao sol, em áreas abertas, ou em fornos industriais. A secagem solar exige o uso de esteiras ou plataformas, com manutenção constante para garantir uma secagem uniforme. Entretanto, esse método é mais lento e dependente do clima.
Secagem em fornos e seus obstáculos
Para acelerar o processo, algumas fábricas utilizam secadores industriais, onde as uvas são submetidas a temperaturas controladas. Porém, o alto custo de energia elétrica no Brasil torna essa alternativa inviável economicamente atualmente, tornando as importadas mais competitivas.
Antes da secagem, as uvas passam por lavagem e recebem produtos para retirar oleosidade e conservar a cor, como o anidrido sulfuroso, que evita o escurecimento. O processo de secagem em fornos dura cerca de 90 dias, sendo seguido por lavagem, centrifugação e seleção.
Importância cultural e benefícios nutricionais
A uva-passa mantém as mesmas propriedades nutricionais que a uva fresca, com a diferença de que perde água durante o processo de desidratação, o que concentra seus nutrientes. Apesar do alto custo, a fruta é um ingrediente tradicional na ceia natalina, presente em pratos como panetone, arroz, farofa e salpicão.
Perspectivas futuras e alternativas
Por enquanto, a produção nacional não consegue competir com os baixos preços da importação, principalmente da Turquia, maior produtora mundial. Investimentos em tecnologia e clima mais adequado podem futuramente ampliar a produção local, mas, por ora, a importação permanece a principal fonte de uva-passa no Brasil.
Através de métodos mais eficientes e custos reduzidos, o setor poderia fortalecer a produção local, valorizando a fruta nacional e reduzindo a dependência de importações. Até lá, o consumo da uva-passa continuará a gerar debates durante o Natal.


