Em uma manhã fresca de segunda-feira na pitoresca cidade de Amersfoort, na Holanda, um grupo de idosos escuta atentamente as palavras de um médico australiano. Dr. Philip Nitschke, fundador da Exit International e o primeiro médico do mundo a administrar uma injeção letal voluntária legal, se apresenta com seu mais recente dispositivo: o controverso Kairos Kollar.
A controvérsia por trás do trabalho de Nitschke
Conhecido por sua visão inovadora sobre a eutanásia, Nitschke não se intimida com as críticas e os apelidos que recebe, como “Dr. Morte”, um título que ele desaprova. O médico, queo foi ao centro das atenções em 2024 quando uma mulher terminou sua vida com a ajuda do polêmico Sarco, uma cápsula de suicídio, está determinada a expandir o acesso ao suicídio assistido.
Os 20 participantes que assistem ao workshop de três horas têm a oportunidade de discutir as leis que cercam a eutanásia, a fisiologia da morte e diversas metodologias, incluindo o uso de gases e substâncias químicas.
O funcionamento do Kairos Kollar
Durante a apresentação, Nitschke demonstra o Kairos Kollar em um manequim. O dispositivo trabalha exercendo pressão sobre as artérias carótidas e barorreceptores no pescoço, interrompendo o fluxo sanguíneo para o cérebro, o que leva à perda de consciência seguida da morte. “O Exit Kairos Kollar é um desenvolvimento importante na busca pela morte assistida… rápido, confiável e sem drogas”, escreve Nitschke em uma postagem nas redes sociais.

Dr. Philip Nitschke e seu novo invento, o Kairos Kollar
O colar se distingue por seu design acessível, com cores vibrantes que, à primeira vista, podem parecer alegres, mas que servem a um propósito sombrio. Segundo Nitschke, o colar é uma opção “pacífica, rápida e confiável” e, além disso, “barato e simples de fabricar”. Tudo isso numa peça que se insere legalmente no debate sobre a eutanásia.
O impacto do trabalho de Nitschke na sociedade
O médico se vê em um campo de batalha moral, com muitos críticos apontando para as implicações éticas e sociais de suas inovações. A sua abordagem não convencional gerou preocupação entre grupos que se opõem à legalização da eutanásia, alegando que seu dispositivo glamoriza o suicídio. Um aspecto polêmico de sua palestra inclui sua crítica aos regulamentos vistos como restritivos em diversos países.
Dr. Nitschke menciona que a legalidade de seus dispositivos é fundamental, especialmente após a controversa apreensão do Sarco pela polícia na Holanda. “Você pode construir seu próprio colar e o suicídio não é crime”, destacou ele em uma de suas apresentações. Apesar das dificuldades, Nitschke ainda mantém sua visão de que os indivíduos devem ter o direito de decidir sobre seus próprios destinos em sua fase final.
Uma jornada de vida dedicada à causa da eutanásia
Nascido na década de 1940 em Ardrossan, na Austrália do Sul, Nitschke estudou física e se formou como médico, mas foi durante um programa de rádio sobre a eutanásia que sua vida mudou. Ele se tornou um defensor determinado, ajudando a aprovar a primeira legislação de morte assistida do mundo em 1996, ainda que por um curto período.
A legislação foi revogada no ano seguinte, mas não antes de quatro pessoas morrerem legalmente através de injeções letais com a assistência de Nitschke. Desde então, ele tem enfrentado desafios e controvérsias, incluindo a suspensão de sua licença médica no Japão, o que apenas reforçou sua determinação em continuar seu trabalho.
Atualmente, Nitschke está desenvolvendo uma cápsula de Sarco para casais que desejam terminar suas vidas juntos, além de um “interruptor de morte” que seria implantado no corpo de pacientes com demência, permitindo que eles planejem seu próprio fim de vida.
Perspectivas futuras para a eutanásia assistida
Dr. Nitschke se posiciona como um pioneiro em um campo polêmico, defendendo que sua tecnologia pode ajudar a resolver o que ele chama de “dilema da demência”. Com suas inovações, ele procura abrir caminho para um debate mais amplo sobre a morte assistida, destacando a necessidade de se considerar as aspirações e direitos dos indivíduos nos momentos finais da vida.
À medida que o debate sobre a eutanásia e o suicídio assistido continua, a contribuição de Nitschke se torna cada vez mais relevante, e sua trajetória desafia normas sociais e legais em torno da morte e do morrer.


