A experiência de Nathália Machado, de 39 anos, mãe de Theo, de 9 anos, demonstra uma preocupação crescente entre os pais brasileiros com os efeitos do uso excessivo de telas nas crianças. Após notar sinais de desatenção, ansiedade e hiperatividade no filho, há três anos, ela decidiu diminuir o tempo de exposição às telas e incentivou brincadeiras tradicionais e leitura. Essa mudança reflete um fenômeno mais amplo no país, em que famílias têm buscado alternativas para equilibrar o uso de tecnologia na infância.
Impacto do avanço digital na infância brasileira
Dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), divulgados no início deste ano, apontam que o uso da internet por crianças brasileiras cresceu significativamente na última década. Em 2015, apenas 9% das crianças de 0 a 2 anos acessavam a internet, enquanto, em 2024, esse índice pulou para 44%. Na faixa de 3 a 5 anos, o crescimento foi de 26% para 71%, enquanto para crianças de 6 a 8 anos, passou de 41% para 82%.
Crescente posse de celulares entre crianças
O avanço também se manifesta na posse de aparelhos próprios. Entre bebês de até 2 anos, aumentou de 3% para 5%. Para crianças de 3 a 5 anos, o percentual subiu de 6% para 20%. Já na faixa de 6 a 8 anos, a incidência dobrou, atingindo 36% em 2024, refletindo uma maior facilidade de acesso às tecnologias móveis desde cedo.
Contra a lógica das telas: incentivo ao brinquedo tradicional
O movimento de resistência às telas é alimentado por uma preocupação com os riscos cognitivos e de segurança. Especialistas recomendam que pessoas de até 2 anos não sejam expostas a telas, e que o tempo de uso entre 2 e 5 anos seja limitado a uma hora diária, sempre com supervisão. Organizações como o Instituto Alana ressaltam que o excesso de conectividade gera desconexão com o ambiente e os outros, além de prejudicar o desenvolvimento social e emocional das crianças.
Brincar para fortalecer vínculos e estimular a criatividade
A tendência de oferecer brinquedos tradicionais vem se fortalecendo, com aumento na procura por jogos de tabuleiro, blocos de montar, pelúcias, brinquedos ao ar livre, livros e outros estímulos que não envolvam telas. Segundo o Anuário 2025 da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), o setor superou R$ 10 bilhões em faturamento em 2024, crescimento de 8,5% em relação ao ano anterior. Varejistas como Americanas relatam aumento na venda de brinquedos que estimulam a criatividade, como jogos de cartas, carrinhos de montar e brinquedos de jardim.
Dados da própria rede indicam que a demanda por brinquedos como blocos de montar cresceu 20% em um mês, com destaque também para produtos como patins, patinetes e livros infantis, que apresentaram alta superior a 50%. Essa mudança de preferência evidencia uma reação ao impacto das telas na rotina familiar.
Negócio de brinquedos e o Natal sem telas
O movimento de priorizar brinquedos tradicionais é reforçado pelo mercado de Natal, que espera aumento nas vendas de produtos que estimulam a criatividade e a convivência familiar. Segundo o diretor de marketing da Asmodee no Brasil, Ade Ferrari, jogos de tabuleiro e cartas representam mais de 25% do faturamento da empresa no país, sendo usados como alternativa às telas na rotina das famílias.
Especialistas alertam que essa mudança tem impactos positivos no relacionamento entre pais e filhos, além de promover o desenvolvimento emocional e social das crianças. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda limitar o uso de telas para evitar desconexão e prejuízos ao aprendizado, reforçando que brincar é fundamental para a formação da personalidade e fortalecimento de vínculos afetivos.
Para Nathália, a redução no uso de telas trouxe benefícios concretos: Theo, que começou a demonstrar maior calma e concentração, passou a interagir mais com os irmãos e a brincar com brinquedos tradicionais. Ela também substitui celulares por brinquedos pequenos em saídas familiares, como jantares, promovendo momentos de convivência sem tecnologia.
Com o Natal se aproximando, muitas mães e pais já decidiram o que colocar na árvore: brinquedos que incentivam a criatividade e evitam telas. Nathália, por exemplo, contempla opções como blocos de montar, jogos de cartas e bolas, com a certeza de que o melhor presente será aquele que promove a brincadeira livre.
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