Para muitos cristãos que cresceram em ambientes conservadores nos Estados Unidos, a fé era uma questão de convicção pessoal e comunidade, não de apoio a uma agenda política. No entanto, nos últimos anos, essa fronteira entre crença religiosa e ideologia tem se diluído, fazendo com que alguns decidam abandonar essa identidade.
O impacto do distanciamento de uma fé politizada
De acordo com ex-fieis, sair do “MAGA Christianity” não é uma tarefa fácil; exige coragem e, muitas vezes, o rompimento com comunidades que moldaram suas vidas. Tia Levings, autora do bestseller do New York Times A Well-Trained Wife, explica que essa vertente do cristianismo é uma sobreposição entre autoritarismo religioso e nacionalismo, distanciando-se dos valores tradicionais de amor e serviço.
O crescimento da influência política nas igrejas, com líderes endossando candidatos e músicas de adoração misturadas com hinos patrióticos, tem aprofundado divisões. Relatos diversos indicam uma crescente fratura, especialmente em questões como saúde pública, imigração, racismo e moralidade cultural.
Conflitos internos e o despertar de dúvidas
Vídeos virais, como o de Jen Hamilton, uma enfermeira e criadora de conteúdo, que critica MAGA enquanto lê o Evangelho de Mateus, exemplificam a crise de fé de muitos. Para ela, confrontar esses valores provoca uma reavaliação profunda, muitas vezes levando ao afastamento das comunidades religiosas.
Uma comentarista relata ter deixado a Igreja Católica devido às opiniões tóxicas sobre moralidade, reconhecendo que se os fiéis fossem mais críticos, talvez retornasse.
Paradoxos e descobertas na crise de fé
Para alguns, a relação entre religião e política virou uma armadilha. Anna Rollins, escritora, lembra que sua infância na fé foi marcada por regras rígidas, onde patriarcado e nacionalismo estavam entrelaçados. A leitura bíblica revelou, posteriormente, a distinção entre o Jesus deixado para trás e o uso político da fé.
Deirdre Sugiuchi, ex-estudante de uma escola evangélica reformada, foi uma das vozes que denunciaram abusos e manipulações, ajudando a desmantelar uma escola que ela considerava uma fábrica de controle e opressão. Hoje, ela mantém uma prática pessoal de fé, mas fora de uma instituição organizada.
O papel da manipulação e do controle religioso
Especialistas como Levings aponta que a força da cultura “MAGA” vem da distorção do que significa ser cristão, ao invés de seguir os ensinamentos de Jesus — que pregava amor, inclusão e justiça social. A influência de líderes autoritários, o medo e a desinformação fortalecem o grupo e dificultam questionamentos.
Anna Rollins observa que muitos permanecem na cegueira emocional e ideológica, acreditando que o nacionalismo, o supremacismo branco e o individualismo representam a essência do cristianismo.
As razões para deixar essa vertente
Para quem decide sair, a luta costuma envolver perdas significativas: comunidades, apoio, redes familiares. Levings afirma que essa saída exige uma resistência emocional enorme, pois muitas vezes o impacto social é devastador, levando ao isolamento.
Alguns encontram novos caminhos de fé, separando-se de espaços politicamente carregados. Jennifer Hawk, ex-evangélica, reforça que sua fé permaneceu viva, agora mais autêntica, ao reconhecer que muitos espaços religiosos abrem mão do verdadeiro ensinamento de Jesus por interesses políticos.
Caminhos de reconstrução e esperança
Especialistas e ex-fieis recomendam que, ao se desconstruir essa narrativa, a busca por pertencimento pode – e deve – acontecer fora do ambiente tradicional. Anna Rollins incentiva a liberdade de questionar e a exploração de comunidades que realmente promovam os ensinamentos de Jesus, sem distorções.
Para Jen Hamilton, a liberdade de uma fé autêntica é possível ao se reconhecer o valor intrínseco de cada pessoa, independente de sua participação em uma instituição. Dessa forma, pessoas que deixaram o “MAGA Christianity” relatam uma sensação de alívio, esperança e uma busca renovada por uma espiritualidade coerente com seus valores.
O despertar de consciência diante da manipulação e o desejo de uma fé mais verdadeira continuam alimentando histórias de transformação e resistência na cultura cristã americana.


