Em um novo desdobramento da investigação contra parlamentares, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou na sexta-feira uma operação envolvendo os deputados Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Carlos Jordy (PL-RJ). Ambos são suspeitos de desviar recursos da cota parlamentar, a verba destinada ao exercício do mandato. Durante a ação, a Polícia Federal encontrou R$ 430 mil em dinheiro vivo no apartamento de Sóstenes, escondido em um saco de lixo dentro de um armário, o que levanta sérias suspeitas.
Valores alarmantes e indícios de fraude
O montante encontrado no apartamento de Sóstenes é 87 vezes maior do que ele declarou à Justiça Eleitoral em 2022. O deputado, que lidera o maior partido na Câmara, agora se vê em meio a graves acusações. As investigações apontam que os dois deputados supostamente utilizaram servidores de indicação política para desviar valores públicos, especialmente destinados ao pagamento de aluguel de veículos, por meio de empresas de fachada que jornais afirmam serem “em benefício próprio” dos parlamentares.
Um desses contratos envolve a empresa Harue Locação de Veículos Ltda, associada a um assessor de Jordy. Curiosamente, a companhia está registrada em nome de uma mulher que recebeu R$ 4.500 em auxílio emergencial recentemente, mas, de acordo com a Polícia Federal, na realidade, pertence a familiares do assessor. As investigações indicam que os deputados utilizavam pagamentos para essa empresa com a intenção de solicitar reembolso da cota parlamentar.
Indícios robustos apontados pelo STF
O STF, ao autorizar a operação, destacou “indícios robustos” da existência de uma organização criminosa sob as ações de Sóstenes e Jordy. Documentos e dados da investigação revelam práticas de “smurfing”, onde o fracionamento de saques e depósitos evita alertas automáticos do sistema financeiro. A PF também coletou mensagens de WhatsApp que mencionam pagamentos “por fora” e quebraram os sigilos fiscais e telefônicos dos parlamentares.
Como operava o esquema investigado
A cota parlamentar, que deveria custear gastos necessários para o exercício do mandato, estava sendo usada de maneira irregular. A polícia descobriu que os deputados faziam pagamentos à empresa de locação de veículos, mas os serviços contratados eram, na verdade, inexistentes. Além disso, os recursos financeiros eram lavados por meio de transações que dissimulavam serviços que, de fato, não foram prestados.
Reações e defendendo a integridade
Após a operação, Sóstenes e Jordy se declararam perseguidos e, em tom de indignação, Sóstenes justificou a origem do dinheiro encontrado como sendo da venda de um imóvel, tendo alegado que o valor não foi depositado devido à ‘correria’ do trabalho. Ele declarou: “Eu vendi um imóvel e recebi em dinheiro lacrado, é declarado em meu Imposto de Renda.” No entanto, ele não forneceu detalhes sobre a venda, como informações sobre o comprador ou a razão para a transação ser feita em espécie, uma prática incomum.
Por sua vez, Jordy mencionou nas redes sociais ser alvo de uma “perseguição implacável”. Em entrevista ao GLOBO, afirmou que não cabe a um parlamentar fiscalizar a frota ou a estrutura interna da empresa contratada, mas sim garantir eficiência e menores custos nos serviços prestados.
Detalhes adicionais da investigação
Os indícios de lavagem de dinheiro são substanciais, incluindo conversas entre assessores que indicam planos para tornar pagamentos irregulares. “Na segunda-feira, vou ver com ele para pagar o outro por fora,” diz uma mensagem que destaca a conivência de outros envolvidos na trama. A Polícia Federal já tinha realizado uma operação anterior, chamada “Rent a Car”, que também investigava esquemas semelhantes de desvio de cota parlamentar.
A prorrogação de contratos e a simulação de serviços numa rede organizada de criminosos são aspectos que a PF considera para aprofundar a investigação. Os relatos preliminares indicam que os gastos com aluguel de carros do deputado Sóstenes se destacam, ultrapassando R$ 137,9 mil em um ano, enquanto outros parlamentares apresentaram despesas significativamente menores.
Com a continuidade das investigações, a sociedade brasileira aguarda ansiosa por esclarecimentos e responsabilidades em um assunto que compromete a integridade do sistema político nacional.



