Os líderes sul-americanos se reuniram neste sábado (20/12), em Foz do Iguaçu (PR), para a 67ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul. Este encontro marca o fim da presidência brasileira no bloco econômico. Contudo, ele termina sem a tão esperada conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE), uma das principais bandeiras do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na última quinta-feira (18/12), Lula converteu-se em diplomata ao conversar, por telefone, com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni. A intenção era angariar apoio para desbloquear a negociação do acordo. No entanto, Meloni pediu mais tempo para avaliar a situação, conforme relatou o presidente brasileiro. “Ela ponderou pra mim que não é contra o acordo, que apenas está vivendo um certo embaraço político por conta dos agricultores italianos, mas que ela tem certeza de que é capaz de convencê-los a aceitar o acordo”, declarou Lula após a conversa.
Desafios do acordo Mercosul-União Europeia
O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia é um tema que está em discussão há 26 anos. A proposta visa criar uma ampla zona de livre comércio entre os países dos dois blocos. Apesar das negociações terem sido concluídas em dezembro de 2024, a formalização do tratado enfrenta resistência de alguns países europeus.
Durante a semana, agricultores realizaram protestos nas ruas de Bruxelas, onde líderes europeus se reuniam para discutir o acordo. Esses agricultores temem que a flexibilização da entrada de produtos sul-americanos no mercado europeu prejudique sua produção.
Contexto do Acordo
- O acordo visa beneficiar a troca comercial entre as regiões, permitindo que a UE exporte mais veículos, máquinas, vinhos e bebidas destiladas para a América Latina, enquanto facilita a entrada de carne bovina, açúcar, arroz, mel e soja sul-americanos na Europa.
- O professor de relações internacionais do IBMEC, Leonardo Paz, observa que, embora o acordo traga vantagens aos produtores sul-americanos e brasileiros, ele pode enfraquecer setores da indústria local, devido à maior competitividade dos produtos europeus. “O Brasil deveria desenvolver políticas de ajuste para proteger esse setor e melhorar a vida dos agricultores,” ressalta.
- Recentemente, o Parlamento Europeu aprovou mecanismos de proteção ao setor agropecuário, permitindo a suspensão temporária dos benefícios tarifários do bloco sul-americano caso seja necessário resguardar a produção europeia.
Expectativas da Cúpula
A 67ª Cúpula do Mercosul, que reúne os chefes de Estado de países membros, ocorreu no Paraná. Apesar de inicialmente sinalizarem ausência, os presidentes da Argentina, Javier Milei, e do Paraguai, Santiago Peña, compareceram, assim como os presidentes do Uruguai, Yamandú Orsi, e da Bolívia, Rodrigo Paz.
O Mercosul, um bloco econômico criado com o objetivo de fortalecer a integração regional entre os países da América do Sul, é composto atualmente por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Bolívia está no processo de adesão, enquanto a participação da Venezuela foi suspensa.
A expectativa é que os impasses para a ratificação do acordo sejam resolvidos em um prazo de um mês. Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, o pacto já tem o apoio necessário para a aprovação, o que pode facilitar a continuidade das discussões nos próximos encontros.
Nos debates, as divergências entre o Mercosul e a União Europeia devem ser um ponto central, refletindo não apenas os interesses comerciais, mas também as dinâmicas políticas que envolvem o comércio internacional. As próximas semanas serão cruciais para determinar os próximos passos e a possível formalização do tão aguardado acordo.


