A morte brutal de Rayana Raissa Albuquerque de Matos, de apenas 21 anos, ao ser baleada pelo companheiro em Hortolândia, São Paulo, ilustra um preocupante aumento da violência contra as mulheres na região de Campinas. Desde outubro, doze mulheres foram assassinadas, o que indica uma média alarmante de um caso por semana. O número de feminicídios em 2025 já ultrapassou o total registrado no ano anterior, levantando questões sobre as motivações por trás desse crescimento e como prevenir tais tragédias.
Um panorama alarmante
De acordo com dados recentes, Campinas concentra a maior parte dos feminicídios, com oito vítimas registradas. Outras cidades da região, como Mogi Guaçu e Hortolândia, também apresentaram números significativos, com cinco e quatro assassinatos, respectivamente. O aumento da violência é um fenômeno que não se restringe a Campinas, afetando diversas cidades ao redor, onde a misoginia e o machismo estrutural têm sido alimentados por discursos e comportamentos intolerantes.
Fatores que contribuem para o aumento da violência
A advogada criminalista Erika Chioca Furlan, especialista em direito processual penal, cita que a época do ano pode ser um fator que intensifica a violência. “É um período de estresse financeiro e familiar, em que a sociedade vende a ideia de uma felicidade idealizada”, comenta. Além disso, o avanço dos direitos das mulheres pode provocar uma reação violenta por parte de homens que se sentem ameaçados ou desconfortáveis com a mudança de paradigma.
A influência das redes sociais
A disseminação de conteúdos misóginos nas redes sociais tem contribuído para criar um ambiente em que falas de ódio se normalizam. Erika aponta que o consumo desses conteúdos transforma a violência em uma possibilidade real e acessível para alguns homens. “A grosso modo, quanto mais direitos e garantias, mais violência. Avanços em igualdade de gênero incomodam, pois as mulheres, após suas lutas, não aceitam mais os relacionamentos abusivos”, afirma.
Como enfrentar e prevenir a violência de gênero
Erika defende que a solução para o feminicídio não está nas mudanças nas leis ou penas mais severas, mas sim em um esforço contínuo para a conscientização sobre a igualdade de gênero. “Não adianta aumentar a pena se a raiz do problema não for confrontada. Precisamos de um trabalho sério que promova a educação e a desconstrução de padrões machistas”, defende.
O papel da sociedade
Uma ação crucial sugerida por Erika envolve a necessidade de limitar o consumo de conteúdo misógino e garantir que as redes sociais não sejam utilizadas para propagar mensagens que objetificam as mulheres. É imprescindível que a sociedade como um todo, incluindo homens e meninos, participe desse esforço para transformar a cultura que tolera a violência.
O impacto do feminicídio em vítimas de diferentes idades
Os dados revelam que as vítimas de feminicídio em 2025, em Campinas, tinham entre 15 e 74 anos. Um alarmante número de assassinatos ocorreu dentro de casa, como o caso de Rayana, ressaltando a urgência de medidas protetivas eficazes e a importância de se criar um ambiente seguro para as mulheres.
O crescimento dos casos de feminicídio não é apenas um problema das autoridades, mas uma questão social que envolve todos os cidadãos. O debate sobre como prevenir a violência contra as mulheres deve ser uma prioridade, iniciando desde a infância até a vida adulta. Confrontar o machismo estrutural e promover um ambiente de respeito e igualdade são passos fundamentais para a mudança.
Com a situação atual, torna-se evidente que as políticas de enfrentamento à violência precisam ser amplamente debatidas e implementadas. O desafio é grande, mas a luta por uma sociedade mais justa e segura para as mulheres é inadiável.


