São Carlos, SP – A história de Nathalia Costa Rodrigues é um exemplo tocante de como pequenos detalhes podem levar a descobertas importantes sobre o desenvolvimento infantil. A secretária de 26 anos percebeu que algo não estava conforme o esperado no desenvolvimento de sua filha, Iara Dalam, de 4 anos, quando ela ainda era uma bebê. O que parecia apenas uma “mania” chamada ‘biquinho’ se transformou em um sinal crucial para o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) não-verbal, suporte nível 3.
A descoberta dos sinais
Nathalia e sua família mudaram-se para São Carlos em busca de tratamento adequado após Iara receber o diagnóstico. Desde os seis meses, a menina exibia o chamado “biquinho”, mas inicialmente isso não parecia mais do que uma simples peculiaridade. A mãe, no entanto, lembrou-se de que, aos oito meses, a criança não respondia quando seu nome era chamado e não buscava contato visual, o que a levou a investigar mais.
“A intuição de mãe falou mais alto do que as orientações do pediatra“, contou Nathalia, que começou a comparar Iara com sua sobrinha, que era um mês mais nova e apresentava comportamento diferente. Ao observar que sua filha não interagia como a prima, começou a pesquisar sobre o autismo, uma decisão que se mostrou vital para a identificação precoce do transtorno.
O papel da família na percepção dos sinais
A avó de Iara, uma enfermeira, também teve um papel importante nessa jornada. Durante uma quermesse, ela notou que a menina ficava completamente hipnotizada pela música e pelo triângulo que tocava no palco. Tal episódio destacou traços comuns do autismo, como a intensa concentração em estímulos específicos. Além disso, Iara demonstrava uma memória impressionante, conseguindo lembrar de caminhos e retornar a lugares conhecidos, mesmo sem olhar ao redor.
Processo de diagnóstico e intervenção
Segundo a psiquiatra Marília Pessali, o diagnóstico de TEA é clínico e envolve a observação da criança em diferentes contextos. Ela ressalta a importância de identificar sinais precoces, como os comportamentos repetitivos que foram observados na pequena Iara. Uma vez diagnosticada, a intervenção precoce é crucial para auxiliar no desenvolvimento da criança:
“Quanto mais cedo o autismo é identificado, mais cedo as terapias podem ser iniciadas, aproveitando a maior plasticidade do cérebro na infância”, explica Marília.
Após a confirmação do diagnóstico, a família começou a buscar terapias em uma clínica especializada e enfrentou desafios como distúrbios de sono e seletividade alimentar extrema. Iara lidou com noites sem descanso e uma dieta restrita, onde os alimentos aceitáveis mudavam constantemente.
Desenvolvimentos positivos e vitória sobre desafios
Com o apoio da família e das terapias, Iara começou a apresentar melhorias significativas. Atualmente, ela já emite vocalizações que indicam um progresso na comunicação e imita os sons e palavras que ouve dos pais. Embora ainda seja não-verbal, as pequenas vitórias na interação social e na habilidade de brincar de maneira funcional são motivo de celebração para Nathalia e sua família.
“Ver Iara imitando o que falamos e cantando músicas que gosta é uma conquista emocionante para nós”, diz a mãe, que planeja seguir uma carreira em psicologia para aprofundar seu conhecimento sobre o autismo e ajudar outras famílias.
A mensagem para outras mães
Nathalia compartilha uma mensagem de força e encorajamento para outras mães que estão no início de suas jornadas com crianças no espectro autista. “Aceitar o diagnóstico é um ato de amor. A intervenção precoce muda tudo. Cuidem-se, porque a maternidade atípica pode ser solitária”, alerta Nathalia.
Ela acredita que a maternidade atípica oferece não apenas desafios, mas também descobertas profundas e um amor que se transforma diariamente. “A maternidade atípica não é menos, nem pior. É diferente. Dentro dessa diferença existe uma força imensa e uma beleza que transforma”, conclui.
A história de Nathalia e Iara serve como um exemplo inspirador de como a observação atenta e a intuição materna podem resultar em intervenções precoces que mudam vidas. Para quem está na mesma situação, a mensagem é clara: os primeiros sinais não devem ser ignorados e a busca por compreensão e tratamento pode levar a grandes avanços no desenvolvimento infantil.


