Em 2024, o Brasil retomou o status de país de classe média, com 50,1% da população pertencendo às classes C, B e A, algo que não acontecia desde 2015. Projeções indicam que, até 2034, esse percentual crescerá lentamente, chegando a 54,7%, segundo a Tendências Consultoria.
Mas, se os números pouco mudam, os valores dessa nova classe média evoluíram. Um levantamento da Quaest mostra que símbolos tradicionais desse grupo perderam relevância, como o diploma universitário, enquanto o empreendedorismo e a busca por soluções rápidas para geração de renda ganharam força.
Ao mesmo tempo, a casa própria continua sendo uma das principais aspirações, e há uma demanda forte por serviços públicos de qualidade, como saúde e educação.
🎓 O diploma universitário perdeu valor?
Quase metade da nova classe média não considera a faculdade essencial, refletindo um pensamento mais imediato sobre o mercado de trabalho. O cientista político Felipe Nunes, CEO da Quaest, explica essa mudança:
“Há uma tentativa de se ganhar dinheiro com menos esforço. Esse imediatismo vem do comportamento digital e do consumo rápido. O esforço para chegar ao ensino superior não está tão valorizado como antes.”
Os números confirmam essa percepção. Em 2012, um diploma universitário representava um salário 152% maior em relação a quem possuía apenas o ensino básico. Em 2023, essa diferença caiu para 126%, segundo a economista Janaína Feijó, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para Rafael Duarte, professor de História e criador de conteúdo com 180 mil seguidores no YouTube, essa desvalorização do ensino superior é um erro: “O ensino superior tem ganhos intangíveis. Ele não serve apenas para educar, mas para dar flexibilidade profissional e ampliar horizontes.”
🏡 Os desejos da nova classe média
Mesmo com mudanças de valores, a casa própria continua sendo um dos maiores sonhos da classe média. Além disso, o estudo da Quaest aponta que mais da metade dos entrevistados acredita que o Brasil era melhor no tempo dos seus avós, demonstrando um sentimento de nostalgia sobre o passado.
Outro aspecto relevante é a posição contrária à privatização de estatais como Petrobras e Banco do Brasil, evidenciando uma visão pragmática sobre o papel do Estado.
Com crescimento econômico lento e baixa mobilidade social, a nova classe média busca alternativas rápidas de ascensão financeira, muitas vezes apostando no empreendedorismo digital e em carreiras que não exigem ensino superior formal.