A guerra na Ucrânia tem sido um palco de desinformação crescente, e recentemente, uma série de vídeos que supostamente retratam soldados ucranianos como relutantes em lutar e dispostos a se render geraram preocupações sobre a manipulação da informação. Utilizando inteligência artificial para criar conteúdos hiper-realistas, essas produções têm como objetivo moldar percepções públicas e influenciar a narrativa sobre o conflito.
O papel da inteligência artificial na desinformação
A utilização de ferramentas como o Sora 2, desenvolvido pela OpenAI, tem tornado ainda mais complexa a identificação de conteúdos falsificados. Alice Lee, analista de influência russa da NewsGuard, explicou que “afirmações falsas criadas usando Sora são muito mais difíceis de detectar e desmentir”, indicando um avanço significativo nas táticas de desinformação. Isso se torna especialmente preocupante em plataformas como o TikTok, onde usuários podem consumir essas informações sem perceber sua falsidade.
O impacto das tecnologias emergentes
A evolução rápida dos vídeos gerados por IA, de simples a quase perfeitos, representa um desafio para a verificação de fatos. Os especialistas alertam que, no futuro próximo, será cada vez mais difícil distinguir entre conteúdo real e fake. A OpenAI reconheceu em declarações que a capacidade do Sora de gerar vídeos e áudios hiper-realistas levanta preocupações sobre a semelhança, má utilização e engano.
Manipulação e guerra psicológica
Desde o início da invasão russa, a guerra na Ucrânia tem sido alvo de esforços de manipulação, abrangendo tudo, desde vídeos de jogos realistas até transmissões falsas de zonas de conflito, muitas vezes atribuídas a atores estatais russos. Os vídeos manipulados recentemente surgem em um contexto onde os diálogos de paz entre as partes envolvidas não progridem, e a maioria da população ucraniana demonstra resistência a propostas de rendição.
Um estudo do Instituto Internacional de Sociologia de Kyiv apontou que cerca de 75% dos ucranianos rejeitam as propostas russas para a paz, com 62% afirmando estar dispostos a suportar a guerra pelo tempo que for necessário. Isso ilustra não apenas a determinação do povo ucraniano, mas também a necessidade de desmantelar a desinformação que tenta minar essa coragem.
Riscos associados à desinformação
De acordo com o Centro de Combate à Desinformação da Ucrânia, houve um “aumento significativo no volume de conteúdos criados ou manipulados utilizando IA” no último ano, visando minar a confiança pública e o apoio internacional ao governo ucraniano. Esses vídeos frequentemente incluem declarações forjadas atribuídas a militares ucranianos e apresentam “confissões” e “escândalos” sensacionalistas.
O desafio da regulamentação e inteligência artificial
Embora a OpenAI tenha implementado algumas salvaguardas para o uso do Sora, a efetividade dessas medidas é questionável. Estudo recente da NewsGuard revelou que o Sora 2 “produziu vídeos realistas com afirmações comprovadamente falsas 80% das vezes”. Os pesquisadores foram capazes de contornar os limites impostos pela IA para gerar conteúdo engano.
A situação se complica ainda mais pelo fato de que as plataformas sociais, como TikTok e YouTube, proíbem a postagem de conteúdo enganoso gerado por IA. No entanto, muitas vezes esses conteúdos são repostados em redes sociais como X e Facebook, onde a desinformação ainda pode alcançar grandes audiências.
Conscientização e responsabilidade do público
Nina Jankowicz, cofundadora e CEO do American Sunlight Project, ressaltou a importância da conscientização em relação à desinformação, afirmando que “é necessário que todos que consomem conteúdo online compreendam que muito do que veem hoje em vídeo, fotos e textos é, de fato, gerado por IA”. Com o aumento do uso de vídeos nas redes sociais, a responsabilidade de verificar o que é consumido recai não apenas sobre as plataformas, mas também sobre os usuários.
À medida que as tecnologias continuam a evoluir, a luta contra a desinformação se torna uma prioridade urgente para proteger a integridade da informação e a confiança pública.


