Os protestos no Leblon, um dos bairros mais nobres do Rio de Janeiro, ganharam destaque nos últimos dias, impulsionados pela insatisfação dos moradores em relação ao aumento da construção de apartamentos compactos na região. De acordo com um estudo do Sindicato da Construção Civil do Rio (Sinduscon-Rio), desde 2019, ano em que o novo Código de Obras entrou em vigor, 168 unidades compactas foram lançadas apenas no Leblon. Essa mudança na paisagem urbana gera preocupações sobre o adensamento e as transformações na dinâmica do bairro.
Aumento dos lançamentos residenciais
O levantamento do Sinduscon-Rio aponta que não apenas o Leblon, mas também a vizinha Ipanema, somaram 859 estúdios e apartamentos de um quarto desde 2019. Claudio Hermolin, presidente do sindicato, argumenta que o número de apartamentos lançados é insuficiente para provocar um adensamento significativo. “É surreal falar em adensamento no bairro por conta de novos apartamentos compactos”, disse Hermolin, enfatizando que a legislação atual possibilitou o surgimento dessas unidades.
No entanto, a construção de um novo empreendimento da Mozak Engenharia, chamado “Guilhem”, com previsão de entrega para 2028, intensificou os protestos entre os moradores da Rua Almirante Guilhem. As unidades variam de 32 m² a 77 m² e foram alvo de cartazes de protesto clamando “Leblon pede socorro” e “Querem destruir o Leblon”.
Reações e ironias nas redes sociais
A polêmica em torno da construção de apartamentos compactos rapidamente se tornou um fenômeno nas redes sociais. Moradores colaram cartazes expressando suas preocupações e, ao mesmo tempo, o protesto acabou gerando um tom cômico, com referências às obras de Manoel Carlos, que retratam a vida da elite carioca. As ironias acompanhadas de memes trouxeram uma nova camada ao debate, transformando a questão em um assunto folclórico, mas que também reflete um preconceito percebido por muitos diante da possibilidade de novos moradores ingressarem na comunidade.
O impacto no cotidiano do bairro
Embora parte da população encare a situação de forma jocosa, os moradores do Leblon levam a sério as possíveis transformações que os novos projetos podem acarretar. As preocupações giram em torno da alteração do perfil da vizinhança, aumento do tráfego e a utilização das áreas comuns. A legislação vigente não impede a construção de apartamentos compactos, o que gera um impasse entre os que defendem a preservação da identidade histórica e aqueles que veem oportunidades de democratização do acesso à habitação.
Legislação e democratização
Conforme informado por Hermolin, a aprovação do novo código de obras em 2019 possibilitou a construção de unidades menores, o que reflete uma tendência de mercado que visa atender a um público diverso, incluindo jovens, viúvos e pessoas que buscam um espaço menor. “Com a legislação de 2019, democratizamos o acesso ao imóvel em bairros tradicionalmente valorizados”, diz Hermolin. Ele ainda destaca que, na sequência dessa legislação, aproximadamente 210 mil unidades compactas foram lançadas no Brasil, com o Rio ocupando a quarta posição entre as cidades desse segmento.
Os bairros de Ipanema e Leblon, especificamente, vivem uma transformação, mas Hermolin garante que não haverá “super oferta” desses imóveis, mesmo diante do clamor por espaço. “São bairros muito consolidados”, afirma, defendendo a ideia de que as mudanças nos imóveis são reflexo de uma evolução nas estruturas familiares e nas demandas do mercado.
A busca por diálogo
Embora a Mozak Engenharia tenha sido contatada para comentar sobre as reações e os protestos em torno dos seus empreendimentos, até o momento, não houve retorno. Essa situação demanda um diálogo mais amplo entre os desenvolvedores e a comunidade local, de modo a encontrar um equilíbrio que preserve as características do Leblon enquanto atende a nova demanda por moradia.
O que se observa, portanto, é um conflito entre a tradição e a modernidade, entre o desejo de manter o status de um dos bairros mais exclusivos do Rio de Janeiro e a necessidade de adaptações diante das novas realidades urbanas. A batalha entre os “Helenas do Leblon” e a nova onda de ocupações urbanas continua, revelando um panorama complexo nas relações sociais e econômicas da cidade.

