A Copa do Mundo de nosso Admirável Mundo Novo teve seu sorteio realizado ontem e, curiosamente, os deuses do constrangimento estavam de folga. Desde sempre, a FIFA se mostrou uma entidade pragmática — e adular Donald Trump parece ser o método mais eficaz para conquistar seus bons favores. O presidente da organização máxima do futebol, Gianni Infantino, pode ser considerado um verdadeiro “Dadá Maravilha” da diplomacia — ele não tem vergonha de fazer gols feios. Porém, o que aconteceu ontem foi além do esperado.
Um troféu polêmico
A entidade que se auto intitula apolítica (e que ironicamente não é) presenteou Trump com uma medalha, um diploma e seu primeiro… troféu da paz. A nova taça apresenta um globo terrestre sustentado por mãos humanas e, além de não ser muito bela, transmite uma certa angústia. Durante o ano, Trump fez lobby para ganhar o Nobel da paz, mas foi ignorado. Infantino parece ter encontrado uma ironia subliminar ao elevar Trump a artífice da paz mundial, citando a trégua na Faixa de Gaza e outros conflitos, mas convenientemente não mencionou outros desastres globais.
— É isso que queremos de um líder: alguém que se importa com as pessoas e deseja uni-las em um mundo seguro. O senhor é merecedor do primeiro prêmio de paz da FIFA! — declarou Infantino, numa clara demonstração de bajulação.
A estratégia da FIFA e o cenário atual
Infantino lançou mãos à obra, elogiando Trump enquanto a maquiagem laranja do presidente se mostrava resistente aos holofotes. Com relação à temática de união de povos, o presidente da FIFA alardeou que receberíamos visitantes de mais de 200 países durante o Megaevento.
É pertinente considerar que durante a Copa do Mundo, o governo Trump possibilite uma pausa nas ações do ICE (agência de imigração dos EUA), que tem vindo a capturar e deportar imigrantes de forma agressiva. Enquanto isso, o governo dos EUA se movimenta para facilitar a entrada de turistas, uma grande contradição às políticas restritivas que têm sido amplamente criticadas.
Infantino quer garantir uma recepção calorosa, ignorando as políticas de imigração do seu anfitrião. A FIFA sabe que precisará de uma tolerância máxima para o evento, e as crianças que aguardam a mágica do futebol precisam, talvez, ser preservadas da dura realidade política.
Expansão da Copa e seu impacto
Um dos principais projetos de Infantino é a ampliação da Copa do Mundo. Em 2026 veremos o aumento do número de seleções participantes para 48, permitindo que países como Cabo Verde, Jordânia, Uzbequistão e Curaçao realizem o sonho de competir no Mundial. Contudo, isso também levanta questões sobre a qualidade das partidas que podemos esperar, já que certamente teremos um recorde de goleadas e jogos que não farão jus à tradição da competição.
Para Infantino, no entanto, esse modelo garante maior faturamento. E, já parece claro que em 2030, na Arábia Saudita, ele poderá enfrentar questionamentos sobre questões de democracia e direitos humanos que ele pode tentar mais uma vez ignorar. A FIFA se define como uma entidade sem fins lucrativos, alegando que busca promover um mundo melhor, o que suscita questionamentos sobre sua postura e ações.
— Nós somos o maior fornecedor de alegria do mundo — declarou Infantino, num momento que reflete a descompromissada relação entre entretenimento e questões sérias. Vale ressaltar que na realidade, como no mundo de Nárnia, na Terra ou onde quer que seja, não existe almoço grátis.
O cenário se apresenta desafiador, mas para a FIFA e sua torcida, isso parece ser apenas mais um ato em seu vasto espetáculo de poder e influência no mundo do futebol.


