As autoridades argentinas começaram a se preparar para o retorno do país aos mercados internacionais de títulos de dívida, com expectativa de que a venda de papéis ocorra até o começo de 2026. Essa iniciativa ocorre em um contexto de melhora na confiança dos investidores, após meses de crise e instabilidade financeira.
Perspectivas de emissão de títulos e cenário político-econômico
Segundo pessoas familiarizadas com o assunto, o governo argentino acredita que os mercados se manterão favoráveis, permitindo a emissão de dívida externa ainda neste início de ano. Apesar de depender de fatores externos, o simples fato de considerar essa possibilidade indica uma reviravolta na estratégia do país nos últimos dois meses, após momentos de forte tensão no mercado financeiro.
Relevância do retorno às emissões internacionais
Desde o default pela terceira vez neste século, na pandemia, a Argentina não acessava o mercado de dívida externo. O objetivo de Milei, que assumiu em 2023, é reentrar nesses mercados, o que também ajudaria a reforçar as reservas internacionais — essenciais para pagar dívidas próximas, que somam cerca de US$ 4,5 bilhões em janeiro e julho do próximo ano.
Recuperação do apetite dos investidores
Nas últimas semanas, o apetite por ativos argentinos de alto rendimento cresceu consideravelmente. Dados da Bloomberg mostram que empresas e províncias venderam mais de US$ 4 bilhões em títulos em dólares desde a vitória de Milei nas eleições de outubro, uma alta expressiva em relação ao montante negociações nos meses anteriores.
Especialistas destacam que, se a Argentina conseguir recomprar títulos vencidos em 2029 e 2030, a entrada de entidades mais arriscadas, como a província de Chaco, seria possível. “Provavelmente, será um tema para o próximo ano”, avalia Pramol Dhawan, responsável por mercados emergentes na Pacific Investment Management, reforçando que o interesse dos investidores continua em alta.
Operações e estratégias em discussão
Para assegurar uma entrada segura no mercado de títulos, o governo avalia operações de dívida como vendas com compromisso de recompra, podendo cobrir até US$ 5 bilhões para pagar amortizações de janeiro, com garantias baseadas em títulos de importadores. Outras opções incluem swaps de dívida e operações semelhantes às realizadas pelo Equador.
Segundo o ministro da Economia, Luis Caputo, a expectativa é que a Argentina acesse os mercados “muito em breve”, especialmente após a melhora na percepção de risco, que tende a diminuir com a aprovação de reformas trabalhistas e tributárias pelo novo Congresso, iniciado em dezembro.
Desafios e fatores estruturais
No entanto, analistas alertam que, apesar do otimismo, ainda há obstáculos a superar. Entre eles estão a necessidade de aumento das reservas em dólares, o que demanda alterações no regime cambial adotado pelo governo. Estudos de bancos como o Barclays indicam que, mesmo com medidas de recompra e acesso ao mercado, a Argentina precisará de compras significativas de dólares para sustentar sua liquidez.
Em relatório recente, esses analistas ressaltam que melhorias na liquidez só ocorreriam com compras agressivas de dólares — o que atualmente parece improvável sob o atual regime cambial argentino.
Histórico e contexto recente
Na sua última entrada nos mercados globais de dívida, em 2017, a Argentina vendeu US$ 16,5 bilhões em títulos, com uma forte demanda de investidores internacionais, que comprometeram US$ 68,6 bilhões na aquisição da dívida. Desde então, o país enfrentou sucessivos defaults, com o último ocorrido em 2020, marcando sua nona moratória desde a independência em 1816.
O apoio recente de Trump, com ajuda emergencial para Milei, também fortalece as expectativas de normalização econômica, ainda que dilemas estruturais persistam. A expectativa é que o governo argentino utilize as próximas semanas para consolidar as condições favoráveis e efetivar o retorno ao mercado.
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