As eleições presidenciais no Chile, marcadas para 2026, colocam em evidência a controvérsia sobre a política migratória do país, diante do aumento da crise de imigração e violência. Dois candidatos principais, Jeannette Jara e José Antonio Kast, apresentam propostas diferentes para gerenciar o fluxo de migrantes ilegais, enquanto líderes religiosos defendem uma resposta mais humana.
Políticas de imigração enfrentam críticas e debates
Nos próximos dias, os candidatos à presidência do Chile discutem suas propostas para o controle da imigração irregular. Kast, da oposição, ameaçou migrantes ilegais com um prazo de 100 dias para deixar o país, caso seja eleito. “Quem estiver irregular terá 100 dias para decidir e sair antes de ser expulso”, afirmou o candidato em vídeo divulgado nas redes sociais.
A candidata da esquerda, Jeannette Jara, propõe uma estratégia centrada na tecnologia, como a criação de uma “muralha digital” com controle biométrico e monitoramento das fronteiras. Por outro lado, ela considera essas medidas uma resposta insuficiente às problemáticas sociais e humanitárias ligadas à migração.
Censura e críticas de líderes religiosos e sociedade civil
O arcebispo de Concepción, Sergio Pérez de Arce, criticou a postura de Kast ao afirmar que a resposta do Chile aos migrantes não pode ser apenas expulsões e ameaças. Em uma coluna intitulada “É ‘Você sai ou nós expulsamos’?”, o arcebispo destacou que muitos imigrantes vivem há anos no país, contribuindo economicamente e formando famílias.
“Alguns têm tentado regularizar sua situação, mas sem muitas alternativas. Excluir os migrantes sem opções gera mais insegurança e ansiedade”, afirmou Pérez de Arce. Ele também comentou que “sair do Chile hoje representa uma incerteza, pois os países vizinhos estão fechando suas fronteiras”.
O religioso enfatizou ainda que a política de expulsões e ameaças não condiz com valores de dignidade humana. “Não é humano, nem racional, nem segundo o Evangelho. Existem outros caminhos mais justos e humanos para lidar com essas questões”, afirmou.
Contexto recente e impacto na população migrante
Nos últimos meses, o Peru reforçou a fiscalização na fronteira com o Chile, resultando na expulsão de quase cem migrantes que ficaram retidos no norte do país. Em resposta, a Igreja Católica de Concepción reforça a necessidade de soluções que respeitem a dignidade.
“Muitos imigrantes têm anos de permanência, trabalham, têm família aqui, e alguns têm filhos nascidos no Chile que possuem cidadania chilena. A resposta a eles não pode ser simplesmente exílio ou expulsão, sem alternativas”, comentou Pérez de Arce.
Ele apontou ainda que expulsar famílias e indivíduos em situação irregular representa uma “decisão dolorosa e insegura”, já que as condições políticas e sociais na região dificultam a convivência e a realocação segura.
Perspectivas de uma política mais humana
A discussão na campanha presidencial revela um dilema maior: equilibrar segurança e controle com respeito pelos direitos humanos. Para o líder religioso, o Chile deve buscar soluções que promovam inclusão e dignidade, mesmo nos contextos de crise migratória.
“A proposta de simplesmente expulsar sem oferecer alternativas vai contra valores humanitários e o comprometimento com a Justiça social”, concluiu Pérez de Arce. Assim, a esperança de uma política mais justa permanece no centro do debate eleitoral e social no Chile.
Esta matéria foi originalmente publicada pela ACI Prensa, parceira da CNA em notícias em espanhol. Foi traduzida e adaptada pela CNA.


