É inacreditável que, em pleno 2025, nosso presidente Lula resolva atacar a inflação com a frase: “Se o preço tá caro, não compre!” Como se estivéssemos lidando com um feirante desonesto e não com uma engrenagem macroeconômica feroz, que passa longe do alcance imediato do consumidor. O que se oferece ao povo não é uma política de Estado, mas um conselho de botequim.
Lula e sua fantástica ‘solução’ anti-inflação: “não compre!”
“Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado e desconfia que tal produto está caro, você não compra. Ora, se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que ele acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar (o preço) pra vender, porque se não vai estragar”
Onde já se viu, em meio a uma crise de preços generalizados, jogar para o cidadão a responsabilidade de “corrigir” o mercado, apenas boicotando produtos?
Vamos ao cerne do ridículo: se todos pararem de comprar arroz, feijão ou carne, isso, na cabeça do Planalto, forçaria preços a despencar. E o que acontece com o senhorzinho que tem um mercadinho na esquina, já de margens apertadas? Ele quebra. E os funcionários que perdem o emprego? Ora, quem se importa? Afinal, para o governo, o problema não é a falta de política monetária decente, nem a eterna agonia do câmbio ou os tributos escorchantes. É simplesmente a teimosia do cidadão em insistir em comer e viver.
A inflação, essa palavra feia que muitos gostariam de aposentar em dicionários, não se resolve com tapinha nas costas e sabedoria de padaria. Exige controle de gastos públicos, estabilidade fiscal, estímulo à produção, combate a gargalos logísticos e outras chatices administrativas que dão dor de cabeça a governo e parlamentares. Mas Lula prefere o atalho populista, aquele “empoderamento” fajuto, tipo “Ah, povo, vocês têm a força, basta não comprar!”
É a mesma lógica que diz a uma criança faminta: “Se não tem pão, coma brioches.” Fica a sensação de que o presidente não faz a menor ideia de como funciona o próprio país que governa.
Parece que a estratégia do Planalto, nos últimos tempos, é desafiar a inteligência do brasileiro. Não há uma articulação real, nem um plano econômico que aponte para baixo a seta do IPCA. Apenas a pregação de que a “consciência coletiva” resolve tudo. É como se o governo, incapaz de apresentar soluções estruturais, atirasse no povo a velha culpa do “se você comprar, a inflação é sua culpa.” E, por tabela, aplaudir-se-ia a si próprio por jogar a responsabilidade ao consumidor.
Mas o pior – e mais irônico – é que esse conselho vem de um presidente supostamente “do povo,” que se elegeu prometendo combater a carestia e o desemprego. Agora, esse mesmo presidente lança a “grande solução”: abandonem seus hábitos. Se a laranja subiu, troque por frutas exóticas. Se a carne ultrapassou as nuvens, coma ovo. Se o ovo estiver caro, paciência—corte também. Consolo típico de quem não precisa medir o gasto semanal no mercadinho e nem se angustiar com a disparada de preços em cada prateleira.
Na prática, o governo revela uma tragédia de incompetência: não consegue domar a inflação, mas encena uma virtude ao pedir boicote. Enquanto isso, o dólar sobe, o endividamento cresce, a renda do trabalhador encolhe. E, claro, nenhum crachá do Planalto se vê afetado – afinal, lá dentro, o salário é garantido, bem como os privilégios e a retórica de que “o povo que se vire.”
O resultado? Mais desalento na base da pirâmide, mais lucro para os tubarões financeiros que nadam nesse mar revolto e um presidente que não oferece nada além de um leve aceno populista. Talvez fosse mais sincero dizer “não há muito o que eu possa fazer,” mas isso mostraria uma honestidade que não cabe ao script do nosso circo governamental.
Em suma, a declaração de Lula é a antítese do estadista: converte um problema sério numa piada de mau gosto, coloca toda a culpa nos ombros do consumidor e lava as mãos quanto a soluções reais. É hora de acordar para o fato de que a inflação, com ou sem boicote de prateleira, continuará batendo cartão enquanto a política econômica for regida por palpites e slogans vazios.
Mas ao que tudo indica, “não compre” é o novo lema oficial. Se não funciona, ao menos diverte – ou enfurece -a plateia.