A expectativa do mercado financeiro para a inflação no Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), sofreu um aumento significativo, passando de 5,5% para 5,51% em 2024. Essa revisão, apresentada no Boletim Focus desta segunda-feira (3), reflete um desvio considerável em relação à previsão anterior, que estimava um encerramento do ano em 4,99%. O ajuste está em linha com o crescente ceticismo em relação à capacidade do Banco Central em cumprir suas metas de política monetária.
As projeções para os anos subsequentes também seguem uma tendência de alta. Para 2026, a previsão da inflação subiu de 4,22% para 4,28%. Já para 2027 e 2028, as estimativas são de 3,9% e 3,74%, respectivamente, sinalizando uma maior pressão inflacionária a curto e médio prazo.
Além disso, o mercado financeiro espera um crescimento modesto do Produto Interno Bruto (PIB), mantendo a projeção em 2,06% para este ano, sem alterações em relação à semana anterior. Para os próximos anos, as previsões apontam para 1,72% em 2026, 1,96% em 2027 e 2% em 2028.
A taxa básica de juros, conhecida como Selic, na previsão do Focus, é apontada para 15% este ano. Esse patamar se mantém há quatro semanas, com expectativas de queda para 12,5% em 2026, 10,38% em 2027 e 10% em 2028. O Comitê de Política Monetária (Copom), por sua vez, elevou a Selic para 13,25% na semana passada, em meio a um cenário de incertezas econômicas e pressões inflacionárias.
Desdobramentos do mercado de trabalho
As altas sucessivas da Selic têm gerado críticas, incluindo do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, que expressou preocupação durante uma coletiva sobre os resultados de emprego no Brasil.
Durante uma coletiva de imprensa em 30 de janeiro de 2025, Marinho argumentou que a luta contra a inflação não deve se basear apenas no aumento dos juros, mas também em estratégias que incentivem a produção. Ele defendeu que um aumento na oferta de produtos pode ajudar a controlar a inflação sem restringir o crédito e a atividade econômica.
O ministro destacou que os sucessivos aumentos na Selic impõem sérias restrições à atividade produtiva e ao orçamento público, tornando o crédito mais caro e inibindo investimentos. Ele mencionou que, embora alguns setores, como a construção civil, possam não sentir o impacto imediato dessas altas devido a contratos já firmados, a continuidade dessa política monetária poderá afetar investimentos futuros.
Marinho também criticou a “histeria” em torno da necessidade de aumentar os juros, afirmando que o Brasil possui uma economia sólida e não enfrenta dificuldades em cumprir seus compromissos financeiros. Segundo ele, é precio uma abordagem mais equilibrada para lidar com a inflação, que combine o aumento da produção com uma política monetária menos agressiva em termos de aumento da taxa Selic.
O aumento das taxas de juros tende a dificultar o acesso ao crédito, o que pode impactar negativamente a produção e o consumo, com potencial para desacelerar o crescimento econômico.
Os números refletem um clima de incerteza que pode influenciar não apenas investidores, mas todos os segmentos da economia brasileira nos próximos anos.