O Brasil registrou a criação de 1,7 milhão de empregos com carteira assinada em 2024, um crescimento de 16,5% em relação ao ano anterior, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O saldo positivo marca a primeira vez desde 2021 que a geração de empregos supera a do ano anterior. No entanto, o fechamento de 535,5 mil vagas em dezembro, o pior resultado para o mês desde 2020, levanta preocupações sobre os rumos do mercado de trabalho neste ano.
Setores e regiões impulsionaram crescimento
O setor de serviços foi o principal responsável pela criação de vagas em 2024, absorvendo 929 mil novos trabalhadores. O comércio também teve um desempenho positivo, com 336 mil novas vagas, seguido pela indústria (306 mil) e a construção civil (110 mil).
Entre as regiões do país, o Sudeste liderou a geração de empregos, com 779 mil novas vagas, seguido pelo Nordeste (330 mil) e o Sul (297 mil). O salário médio real de admissão ficou em R$ 2.177,96, um aumento de R$ 55,02 em relação a 2023.
Sinal de alerta: retração no fim do ano
Apesar dos bons números gerais, a desaceleração foi perceptível nos últimos meses de 2024. Em outubro, houve uma queda de 47,2% na geração de empregos em relação a setembro, enquanto novembro registrou um saldo 19% menor que o mês anterior. Em dezembro, a retração foi ainda mais forte.
Para Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, a perda de fôlego no mercado de trabalho indica uma desaceleração da atividade econômica, o que pode reduzir pressões inflacionárias e impactar a taxa básica de juros.
Já Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria, destaca que a tendência de desaceleração deve se intensificar a partir da segunda metade de 2025, influenciada pelo aperto nas condições financeiras e a deterioração da confiança econômica.
— Ainda devemos ver uma resiliência, mas a desaceleração vai aumentar a partir da segunda metade do ano — avalia Assis.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, reagiu positivamente à queda nos juros futuros impulsionada pelos dados do Caged, fechando em alta de 2,82% ontem.
Histórias de quem se recolocou no mercado
Entre os beneficiados pela melhora no mercado de trabalho está Gabriele Ancieto de Oliveira, de 39 anos, que conseguiu emprego como garçonete em outubro, após cinco meses de busca.
— Tinha cinco meses que eu tinha saído de outra empresa e estava recebendo seguro-desemprego. Fui indicada por uma pessoa, o restaurante gostou do meu trabalho e assinou minha carteira — conta Gabriele, que usou redes sociais e grupos de apoio para encontrar oportunidades.
As analistas de marketing Júlia Falante e Isabela Rodrigues Vianna, ambas de 22 anos, também foram contratadas no último ano. Começaram como estagiárias e conquistaram seu primeiro emprego na área. Para Júlia, a efetivação veio de forma inesperada:
— Foi uma surpresa porque a vaga era da mesma coordenação de que eu fazia parte como estagiária, só que era de uma outra equipe interna. Então, essa vaga foi realocada para a equipe que eu estava — relata.
O que esperar para 2025?
O economista Rodolpho Tobler, do FGV Ibre, avalia que, apesar da queda no fim do ano, o saldo de 2024 foi positivo, impulsionando o consumo e o aumento dos salários.
— O resultado mostra que a retomada consistente do trabalho formal reverberou no consumo e em salários maiores. Estamos falando de maior poder de compra por parte da população — analisa.
No entanto, Tobler pondera que os números de dezembro acendem um alerta, pois refletem uma percepção mais negativa dos empresários sobre o futuro da economia. Ainda assim, ele considera cedo para prever uma desaceleração contínua do emprego nos próximos meses.
— A gente está com um sinal de alerta, mas ainda vale um compasso de espera porque temos poucos resultados. Os números deste início de ano é que vão ditar o ritmo de 2025 — conclui.
Com o mercado de trabalho formal em recuperação, o desafio para 2025 será manter o ritmo de geração de empregos e enfrentar os obstáculos da economia, garantindo que a desaceleração vista no fim do ano passado não se transforme em uma tendência duradoura.