Teresina, 31 de janeiro de 2025
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Açaí: superalimento brasileiro e o potencial inexplorado dos caroços

Pesquisa revela benefícios do extrato da semente do açaí para saúde e meio ambiente
O crescente consumo do açaí no Brasil e no mundo trouxe impactos econômicos e ambientais que precisam ser equilibrados. Fotos Públicas

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O açaí (Euterpe oleracea), fruta típica da Amazônia, conquistou o mundo nos últimos anos como um dos principais superalimentos. Rico em antioxidantes e amplamente consumido em forma de polpa, ele impulsionou a economia de diversas regiões do Brasil, especialmente no estado do Pará, responsável por grande parte da produção nacional. Em 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país produziu cerca de 1,6 milhão de toneladas do fruto. No entanto, a crescente demanda trouxe desafios ambientais, sobretudo pelo descarte inadequado dos caroços, que representam mais de 70% do peso do fruto.

Embora algumas iniciativas tenham surgido para reutilizar esses resíduos na produção de bioplásticos, cosméticos e biocarvão, seu potencial farmacológico ainda é pouco explorado. Pesquisas recentes, no entanto, indicam que o extrato da semente do açaí pode trazer benefícios significativos para a saúde humana, especialmente no tratamento da obesidade, diabetes e doenças metabólicas.


A Descoberta do potencial medicinal

No início dos anos 2000, o professor Roberto Soares de Moura, do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (IBRAG/UERJ), visitou o Pará e observou o impacto ambiental do descarte dos caroços. A partir dessa constatação, iniciou-se um projeto de pesquisa para investigar as propriedades medicinais desse resíduo, em colaboração com a professora Angela de Castro Resende.

Os estudos começaram oficialmente em 2007 e, desde então, os resultados têm sido promissores. A equipe descobriu que o extrato dos caroços do açaí contém compostos fenólicos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias semelhantes às encontradas na polpa do fruto. Essas substâncias têm potencial para atuar na prevenção e tratamento de diversas doenças metabólicas.


Impactos na obesidade e no metabolismo

Experimentos conduzidos pelos pesquisadores avaliaram os efeitos do extrato em camundongos alimentados com dietas ricas em gorduras, que simulam condições de obesidade em humanos. Os resultados, publicados em 2010, mostraram que os animais suplementados com o extrato ganharam 40% menos peso, tiveram níveis de glicose reduzidos em 14% e apresentaram uma queda de 70% na insulina, além de manterem colesterol e triglicerídeos dentro de padrões normais.

Mais recentemente, a equipe descobriu que a combinação do extrato com atividades físicas resultou em uma redução ainda maior de fatores de risco metabólicos: queda de 70% na glicemia, 81% no colesterol total e 72% na gordura acumulada no fígado. Além disso, os pesquisadores identificaram que o extrato melhora a excreção de colesterol e regula um importante sistema hormonal ligado à pressão arterial e ao equilíbrio de líquidos no corpo.


Proteção renal e regulação intestinal

Além dos impactos na obesidade e no metabolismo, os estudos também apontam benefícios para os rins. Em testes com ratos diabéticos e hipertensos, o extrato do caroço do açaí ajudou a reduzir inflamações e a normalizar níveis de ureia e creatinina, protegendo contra danos renais graves. Além disso, o composto demonstrou potencial para evitar hipertensão secundária associada ao estreitamento da artéria renal.

Outra descoberta relevante está relacionada ao intestino. A pesquisa mostrou que o extrato auxilia na restauração da microbiota intestinal, promovendo o crescimento de bactérias benéficas e aumentando a produção de ácidos graxos de cadeia curta, substâncias que favorecem a saúde digestiva e metabólica.


Desafios para a produção e comercialização

Apesar dos resultados promissores, o caminho para a comercialização do extrato como medicamento ainda exige novos estudos clínicos em humanos. Atualmente, a equipe de pesquisadores busca parcerias para ampliar os testes e regulamentar seu uso.

Uma vantagem desse novo composto é seu processo de extração simples, o que viabiliza a produção em larga escala e pode transformar um resíduo ambiental em um recurso valioso para a indústria farmacêutica.


Sustentabilidade e saúde caminhando juntas

O crescente consumo do açaí no Brasil e no mundo trouxe impactos econômicos e ambientais que precisam ser equilibrados. A reutilização dos caroços não apenas reduz a poluição causada pelo descarte inadequado, mas também pode gerar novas oportunidades no mercado de suplementos naturais.

Com a obesidade e o diabetes sendo problemas de saúde pública cada vez mais graves — estima-se que 1,3 bilhão de pessoas possam desenvolver diabetes até 2050 —, a busca por alternativas terapêuticas naturais se torna ainda mais relevante. O extrato do caroço do açaí surge como uma possibilidade inovadora para enfrentar essas condições, aliando benefícios à saúde com soluções sustentáveis.

O futuro do açaí pode ir além das tradicionais tigelas e smoothies. Se os avanços científicos continuarem no ritmo atual, em breve ele poderá estar presente também como um aliado essencial no combate a doenças metabólicas.

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