Segundo o Instituto Amostragem, Rafael Fonteles teria hoje algo em torno de 84% de intenção de votos. Em termos simples: de cada 10 eleitores piauienses, 8 já estariam prontos para reconduzir o governador ao cargo daqui a um ano.
É um número tão fora do padrão que não parece pesquisa, parece decreto.
Vamos aos fatos.
O histórico eleitoral do Piauí não registra absolutamente nada parecido. Em 2014, Wellington Dias foi eleito no primeiro turno com 63,08%. Em 2018, novamente Wellington, já no auge do seu domínio, subiu para 55%. Em 2022, Rafael venceu com 57%. Ou seja: o teto histórico do PT no Piauí, em momento algum, chegou sequer perto dos 70%. Agora, milagrosamente, pulou para mais de 80%?
É como se, de um ciclo eleitoral para outro, tivesse havido uma migração em massa, súbita e silenciosa, de mais de um milhão de piauienses para o grupo dos “devotos” do governo. Um fenômeno sociológico inexplicável.
Mas sigamos.
A pesquisa coloca a oposição formada por Joel Rodrigues, Mainha e Toni Rodrigues, somados, em cerca de 20%. Isso quer dizer que, num estado tradicionalmente dividido, onde sempre houve uma padrão competitivo, de repente a diversidade eleitoral evapora.
Tudo se converte em aclamação.
E aqui surge a pergunta incômoda: o que está acontecendo de tão extraordinário no Piauí a ponto de destruir por completo a pluralidade política?
A resposta mais provável não está na rua. Nem na casa dos cidadãos.
Há dois caminhos possíveis:
1. Ou Rafael fez um governo tão espetacular que conseguiu, em apenas três anos, conquistar um nível de aprovação que nenhum governador do Piauí jamais sonhou.
— O que, convenhamos, não condiz com a realidade visível: água faltando, saúde sobrecarregada, pendências administrativas, reclamações de servidores, investigações federais rodando e discussões internas no próprio PT.
2. Ou a oposição está em seu pior momento da história — desarticulada, desconectada e incapaz de oferecer alternativa minimamente crível.
Mesmo assim, nem o vazio oposicionista explica o fenômeno. Nem mesmo no auge do domínio petista o eleitorado se comportou como um rebanho eleitoral unificado.
Sempre houve resistência significativa, sempre houve segundo turno em potencial. A não ser que agora, magicamente, o eleitorado tenha dormido como a Bela Adormecida, aguardando um beijo para acordar.
O que falta nessa equação? A verdade. Sempre ela.
E a verdade é que números assim transformam eleições em “plebiscitos fabricados”. Criam a ilusão de que tudo está decidido, inibem apoios, reduzem resistências, alimentam narrativas de inevitabilidade. Pesquisas podem ser fotografia; às vezes, podem ser cenografia.O Piauí não virou uma unanimidade. Pode ter certeza. Virou um palco.




