A situação da segurança no Ceará se tornou alarmante, com o avanço das facções criminosas que se expandem além do tráfico de drogas. Em uma entrevista ao g1, o professor Artur Pires, da Universidade Estadual do Ceará e pesquisador no Laboratório de Estudos da Violência da UFC, aborda as raízes históricas desse problema e a incapacidade do Estado em proteger seus cidadãos.
A evolução das facções criminosas no Ceará
De acordo com Pires, o cenário atual de violência no Ceará não é recente, mas fruto de um histórico de desigualdade social e falta de oportunidades. As facções, que inicialmente se concentravam no tráfico de drogas, estão agora diversificando suas atividades. O professor ressalta que essa mudança de foco trouxe novos desafios para as autoridades locais.
Nos últimos anos, as facções criminosas no Ceará se tornaram mais organizadas e sofisticadas. Elas não apenas controlam o tráfico de drogas, mas também estão se envolvendo em atividades como extorsão, roubo de veículos e até mesmo exploração de atividades ilegais em áreas rurais. Essa diversificação se deve à busca por novas fontes de receita, à medida que o mercado de drogas se torna cada vez mais competitivo.
A falha do Estado em garantir segurança
Pires aponta que o Estado do Ceará falha em cumprir seu papel fundamental de garantir segurança e proteção aos cidadãos. “O contrato social básico entre o Estado e a sociedade está rompido”, afirma ele. Essa falha é visível na ineficácia das políticas públicas e na falta de ações efetivas para combater o crime organizado.
Além disso, a presença das facções criminosas, que se influenciam mutuamente, acentua a sensação de insegurança na população. A população tem vivido um ciclo de medo e insegurança, onde os cidadãos se sentem desprotegidos e abandonados pelo governo.
Impactos sociais da violência
A violência e o crescimento das facções têm impactos diretos na vida das pessoas e na economia local. A insegurança desencoraja o turismo e o investimento em diversas áreas, afetando o desenvolvimento econômico do Estado. Segundo Pires, é fundamental que o governo implemente políticas públicas que vão além do mero combate à criminalidade.
É necessário um olhar holístico que considere questões sociais, como educação, saúde e oportunidades de emprego, que são cruciais para desmantelar as bases sobre as quais as facções se sustentam. A falta de investimentos nessas áreas amplia o ciclo de pobreza e violência, perpetuando a atuação das facções.
Caminhos para a mudança
Para enfrentar essa realidade desafiadora, Pires sugere que o Estado do Ceará precisa urgentemente de um planejamento estratégico focado na prevenção da violência. Isso inclui a participação ativa da sociedade civil, que deve ser parte integrante do processo de construção de soluções.
O fortalecimento das comunidades e a promoção de programas de inclusão social poderiam, em longo prazo, reduzir a adesão dos jovens às facções. Além disso, é imprescindível a implementação de medidas eficazes de repressão ao crime organizado, tanto na linha da investigação quanto na atuação preventiva nas comunidades.
Em resumo, o Ceará enfrenta um cenário complexo e alarmante com o crescimento das facções criminosas. A resposta do Estado a essa situação é crucial para restabelecer a confiança da população e garantir direitos básicos, como segurança e proteção. Identificar e abordar as raízes dessa violência são passos fundamentais para mudar essa realidade e garantir um futuro mais seguro para todos os cearenses.
Com as recentes prisões de membros de facções, como o Comando Vermelho, a expectativa é de que ações mais enérgicas possam ser adotadas, mas a longo prazo, o foco deve estar na transformação social e na inclusão.


