O ex-prisioneiro político nicaraguense Félix Maradiaga, eleito presidente do World Liberty Congress, criticou o silêncio da Igreja Católica na Nicarágua, país sob forte repressão do ditador Daniel Ortega. Em entrevista à “EWTN Noticias,” ele afirmou que há um “silêncio” filter na Igreja diante das graves violações de direitos humanos no regime totalitário.
Perseguição e censura na Nicarágua
Maradiaga, também presidente da Fundação pela Liberdade da Nicarágua e mestre em administração pública pela Harvard, afirmou que “a censura no país é muito eficiente” e que a repressão se estende além das fronteiras. “Há uma repressão transnacional, uma metodologia perversa dos regimes autoritários de silenciar, censurar e eliminar seus opositores também fora da Nicarágua”, alertou.
Ele destacou vários exemplos, como o assassinato do ex-oficial do exército nicaraguense Roberto Samcam na Costa Rica e as ameaças a sacerdotes exilados que, ao falar, colocam suas famílias em risco. “Isso criou um clima de silêncio, onde os que estão no exílio não podem se manifestar, pois ameaçam suas famílias”, criticou.
Religiosos silenciados e o dilema da Igreja
Segundo Martha Patricia Molina, autora do relatório “Nicarágua: Igreja Perseguida,” as autoridades proíbem os padres de denunciarem publicamente abusos, e qualquer manifestação é negada oficialmente. “Os leigos têm medo de serem ameaçados por organizações vinculadas ao regime ou paramilitares”, acrescentou.
Maradiaga reforça a responsabilidade dos fiéis leigos de se manifestarem pelo silêncio imposto aos sacerdotes, que não podem falar. “A Igreja enfrenta um dilema: continuar como acompanhante pastoral ou denunciar a perseguição”, refletiu. Contudo, ele enfatizou que uma esperança surge com o recente encontro do Papa Leo XIV com o bispo exilado Rolando Álvarez, que esteve detido por 17 meses sob acusações de traição.
Como Ortega mantém o poder?
De acordo com Maradiaga, o regime de Ortega se aproveita da distração global causada por várias crises para fortalecer sua repressão. “Ele transformou a Nicarágua em uma prisão gigante, com assassinatos extrajudiciais, fechamento de universidades independentes e repressão à imprensa”, criticou. Ortega conta ainda com o apoio de Irã, China e Rússia para sustentar seu governo autoritário.
Ele destacou, ainda, a importância de uma atuação internacional coordenada. “A derrubada do regime de Nicolás Maduro na Venezuela, por exemplo, impactaria diretamente Ortega”, afirmou, referindo-se às medidas mais rigorosas tomadas pelos Estados Unidos contra a ditadura venezuelana.
Repressão e migração ilegal
No âmbito internacional, o Departamento de Estado dos EUA anunciou, em 17 de novembro, que bloqueará vistos para indivíduos que facilitem a imigração ilegal na Nicarágua, incluindo empresários de transporte e agências de turismo. Arturo McFields, ex-embaixador da Nicarágua na OEA, afirmou que Ortega criou uma “indústria de tráfico humano”, usando voos de Havana e a passagem por Nicaragua para facilitar a rota de imigração clandestina rumo aos EUA. Segundo ele, muitos migrantes veem na Nicarágua uma esperança inicialmente, mas acabam sendo explorados perante um sistema de abusos.
Este tema continua em destaque na avaliação internacional sobre a crise humanitária e política na Nicarágua, com a forte repressão a oposição e a Igreja Católica, que permanece silenciosa diante do silêncio oficial do regime.
Esta reportagem foi originalmente publicada pela ACI Prensa, parceira de notícias em português da CNA, e adaptada para o português.


