Brasil, 25 de novembro de 2025
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Liquidar o Banco Master mostra falhas na regulação do sistema financeiro, avaliam especialistas

A liquidação do Banco Master, maior da história do país, revela lacunas na fiscalização e expõe prejuízos aos investidores e ao sistema

A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central na semana passada, evidencia fragilidades na regulação do sistema financeiro brasileiro. Segundo especialistas, o episódio demonstra como a ausência de controles eficazes permitiu a expansão de uma estratégia de risco elevado, culminando na maior crise bancária do país em impacto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Contexto e impacto da crise no Banco Master

De acordo com o sócio da consultoria Troster & Associados, Roberto Luis Troster, a situação do Banco Master representa uma privatização dos lucros e uma socialização das perdas, com prejuízos que atingem bilhões de reais. Ele aponta que, além dos mais de R$ 40 bilhões que o FGC perdeu, diversos investidores também tiveram seus recursos comprometidos, configurando um ônus que será dividido por todos nós.

Daniel Vorcaro, proprietário do banco, foi preso preventivamente em 17 de novembro sob acusação de fraude de R$ 12,2 bilhões contra o sistema financeiro. A prisão foi mantida três dias depois, após julgamento na Justiça.

Consequências para o Fundo Garantidor de Crédito

O FGC registrou uma operação inédita na sua história de 30 anos, ao ter que resgatar R$ 41 bilhões de investidores do Banco Master, o equivalente a um terço de seus recursos líquidos, que somam R$ 122 bilhões. Estima-se que cerca de 1,6 milhão de investidores poderão ser ressarcidos com o valor total, incluindo depósitos em CDBs e outros títulos garantidos.

Antes do Master, o maior resgate havia sido o do Banco Bamerindus, em 1997, no valor de R$ 3,7 bilhões — cerca de R$ 19,6 bilhões atualmente, considerando a inflação.

Falhas na regulação e estratégias do banco

Para Troster e o professor Alexandre Jorge Chaia, do Insper, a crise revela que o sistema de regulação falhou ao permitir o crescimento acelerado do banco, baseado na emissão de CDBs com retornos atípicos — até 160% do CDI — e investimentos em ativos arriscados, como participações em empresas problemáticas e precatórios judiciais.

“Já em maio, o FGC precisou fazer um empréstimo emergencial de R$ 4 bilhões ao banco, mostrando que ele não gerava caixa”, afirmou Troster. Segundo o economista, o balanço de dezembro de 2024 indicava sinais claros de problemas, com crescimento desproporcional de ativos e uma carteira de crédito que representava apenas 20% do total.

Responsabilidades e falhas na fiscalização

Chaia destaca que as falhas de regulação vêm de antes do caso, refletindo em episódios como ataques hackers, operações de lavagem de dinheiro e dívidas líquidas de difícil pagamento. O Banco Central, embora tenha democratizado o acesso ao mercado com iniciativas como o open banking e a expansão das fintechs, foi considerado leniente ao longo dos anos, o que contribuiu para a vulnerabilidade do sistema.

O banco central demorou a agir, e a intervenção só aconteceu quando a crise se tornou inevitável, incluindo a tentativa de fusão com o Banco de Brasília (BRB), que foi barrada em setembro. Na época, deputados apoiaram uma proposta de mudar o comando do BC, envolvendo nomes ligados ao próprio dono do Banco Master, Daniel Vorcaro.

Reformas e possíveis mudanças no Fundo Garantidor

Após o episódio, discussões têm ganhado força sobre redução do valor máximo garantido pelo FGC, atualmente R$ 250 mil, ou limitar a cobertura ao valor principal investido. Especialistas, contudo, avaliam esses ajustes com cautela, pois podem desestimular o investimento em bancos de menor porte, prejudicando a competitividade.

O professor Chaia recomenda que o Banco Central intensifique a regulação da concorrência, controlando a alavancagem e os riscos assumidos pelos bancos menores, ao invés de limitar a proteção ao investidor por meio do seguro. Troster também aponta que mudanças em regras de acesso ao FGC podem ser mais eficazes na prevenção de crises futuras.

Perspectivas futuras e o papel do Banco Central

Especialistas acreditam que o BC deve reforçar a fiscalização do risco sistêmico, além de aprimorar as regras para que instituições menores não assumam riscos excessivos. Desde agosto, medidas já foram tomadas para limitar a alavancagem das entidades associadas ao fundo, com o objetivo de evitar novas tentativas de crescimento descontrolado.

Apesar do dano econômico, os especialistas destacam que o episódio não resultou em uma crise sistêmica maior, cumprindo o papel de impedir o colapso do sistema financeiro nacional.

Para ler sobre a situação dos investidores e os próximos passos, acesse a matéria completa no G1.

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