No momento em que busca avançar com pautas consideradas prioritárias no Congresso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta um novo obstáculo. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou o rompimento com o líder do PT na Casa, deputado federal Lindbergh Farias (RJ). A relação entre os dois já estava fragilizada após episódios recentes, como a tensão em torno do PL Antifacção, cuja relatoria Motta entregou à oposição. Integrantes da Mesa Diretora da Câmara relatam que a crise escalou nas últimas semanas.
Motivo do rompimento
Segundo fontes próximas ao presidente da Câmara, Motta acusa Lindbergh de atuar de forma errática, não cumprir com as votações prometidas e tentar transferir responsabilidades da articulação do Palácio do Planalto para o comando da Câmara. Em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Motta declarou: “Não tenho mais interesse em ter nenhum tipo de relação com o deputado Lindbergh Farias”.
Reação do líder do PT
A resposta de Lindbergh foi rápida e contundente, com o deputado utilizando suas redes sociais para comentar a situação. Ele argumentou que a crise de confiança na relação entre o governo e Motta reflete as escolhas feitas pelo próprio presidente da Câmara. Em suas palavras, ele classificou a posição de Motta como “imatura” e ressaltou que suas ações políticas são sempre transparentes e previsíveis, ao contrário de como ele percebe a postura de Motta.
O petista ainda criticou a maneira como o presidente da Câmara conduziu a negociação de matérias importantes, como a derrubada do IOF e a escolha do deputado Guilherme Derrite como relator de um projeto de autoria do Poder Executivo, sugerindo que Motta agiu de forma incoerente.
Histórico de conflitos
Este não é o primeiro conflito significativo entre um presidente da Câmara e um interlocutor político do governo durante o terceiro mandato de Lula. Anteriormente, Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara, e Alexandre Padilha, atual ministro da Saúde, também se tornaram desafetos, com Lira chegando a classificar Padilha de “incompetente” em meio a diversas disputas.
Defesa do PL Antifacção
Antes do rompimento com Lindbergh se tornar público, Motta utilizou suas redes sociais para se defender contra duras críticas recebidas tanto do presidente Lula quanto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em relação ao PL Antifacção. O endurecimento da defesa pública do projeto coincide com os esforços do governo para reverter no Senado pontos considerados críticos no texto aprovado pela Câmara.
Motta ainda destacou que “há muita gente tentando distorcer os avanços do Marco Legal de Combate ao Crime Organizado” e questionou os interesses que possam estar por trás de um possível enfraquecimento da legislação que busca endurecer as penas contra criminosos.
Impacto para o governo
O rompimento entre Motta e Lindbergh acontece em um momento extremamente sensível para o Executivo, acrescentando pressão às já existentes tensões no Senado, onde Davi Alcolumbre (União-AP) também se encontra em conflito com o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), após a escolha de Jorge Messias para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). O governo encontra dificuldades para votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), uma etapa fundamental para avançar o Orçamento de 2026, exigindo negociações simultâneas em diversos projetos de impacto fiscal e político.
O futuro das articulações no Congresso
Com o distanciamento entre líderes governistas na Câmara e no Senado, a articulação do governo agora depende mais diretamente de ministros políticos, do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), e de negociações diretas com as bancadas. A experiência de José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, e do senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do partido no Senado, será essencial para navegar por este novo cenário repleto de desafios.
O descontentamento manifestado por Motta e Lindbergh não só revela as dificuldades do governo em articular suas propostas, mas também coloca em evidência as complexidades da política brasileira, onde alianças são frequentemente testadas, e a governabilidade depende da habilidade de negociação e comunicação entre as diversas partes envolvidas.



