O X, plataforma de compartilhamento de mensagens anteriormente conhecida como Twitter, foi alvo de forte repercussão após o lançamento de uma ferramenta que exibe a localização de contas. Criado por Nikita Bier, chefe de produto do X, o recurso permite que os usuários vejam o país ou a região onde uma conta está sediada, com o objetivo de promover maior transparência em uma rede marcada por desinformação e operações de influência.
Recurso do X aumenta transparência, mas expõe influências externas
Segundo Bier, o objetivo do recurso é garantir a integridade da praça pública global ao permitir que os usuários identifiquem a origem de perfis suspeitos. “Este é um primeiro passo importante para garantir a integridade da praça pública global”, afirmou no X. No entanto, a implementação gerou controvérsia, pois a ferramenta revelou que dezenas de personalidades de direita apoiadoras de Donald Trump, inclusive com grande número de seguidores estrangeiros, estavam em países como Nigéria, Bangladesh, Tailândia, Myanmar e na Europa Central.
Desconfiança sobre atividades estrangeiras e influência política
Especialistas e pesquisadores alertaram que a novidade reacendeu preocupações sobre influência estrangeira na política americana e brasileira. Pesquisadores que monitoraram redes pró-MAGA, por exemplo, descobriram uma forte ligação de perfis falsos e influenciadores de fora dos EUA, usados para disseminar mensagens de apoio ao ex-presidente e influenciar o debate político.
Benjamin Strick, diretor de investigações do Centro para a Resiliência da Informação, comentou: “Muitas dessas contas eram operadas na Tailândia e tinham ligações com Myanmar, o que mostra um padrão de conexão internacional na manipulação de narrativas”. Anteriormente, essas contas postavam usando fotos roubadas ou fictícias, dificultando a identificação de suas origens reais.
Impacto, críticas e desafios técnicos
Após o lançamento, usuários relataram que algumas contas falsas, incluindo perfis com grande quantidade de seguidores, foram imediatamente suspensas, como uma com mais de um milhão de seguidores que se passava por fã de Ivanka Trump e tinha localização na Nigéria. Ainda assim, alguns questionaram a precisão do recurso, uma vez que plataformas usam VPNs e outros métodos para mascarar localizações.
Além disso, a plataforma admitiu que os dados de localização podem não ser totalmente precisos, pois podem ser influenciados por viagens recentes ou uso de VPNs. Bier afirmou que aprimoramentos ainda estão sendo feitos, com previsão de uma atualização para garantir uma precisão de até 99,99% na próxima semana.
Reações e preocupações com privacidade
Críticos alertaram que o recurso pode expor dissidentes e manifestantes em regimes autoritários, além de facilitar ataques direcionados. Em resposta, o X anunciou que usuários em países com restrições à liberdade de expressão terão a opção de exibir apenas sua região, promovendo maior privacidade.
Especialistas em tecnologia também destacam que a diminuição da moderação manual aumenta o risco de ações coordenadas por agentes mal-intencionados, como russos e chineses, que buscam semear o caos político globalmente. Amy Bruckman, professora do Instituto de Tecnologia da Geórgia, afirmou: “Agentes pagos inflamam deliberadamente controvérsias porque elas atraem atenção, o que é um problema sério para plataformas confiáveis”.
Restrições e respostas às críticas
Antes do lançamento, algumas contas de influenciadores políticos de direita tiveram seus perfis suspensos por divulgação de desinformação, mas foram posteriormente desbloqueadas por decisão judicial. Entre esses perfis estão o da deputada Carla Zambelli, do deputado Nikolas Ferreira e de outros apoiadores de Bolsonaro, que tiveram seus acessos interrompidos por propagarem conteúdo inverídico ou incitarem violência contra as instituições brasileiras.
O X afirmou que continuam ajustando o sistema para equilibrar transparência, privacidade e segurança, e que melhorias na precisão estão em andamento. A plataforma também reforçou que, em países onde a liberdade de expressão é reprimida, o recurso limita a exibição de localização detalhada para proteger dissidentes.
Perspectivas futuras e desafios da plataforma
Especialistas reforçam que a iniciativa representa um avanço na luta contra a desinformação, mas que ainda há muitos desafios a serem superados. O uso de tecnologia para identificação de operações coordenadas e o combate às operações estrangeiras demandam esforços contínuos e criteriosos.
Com o aumento das operações de influência e a crescente ameaça de agentes externos, a plataforma afirmou que investe em melhorias na inteligência artificial e que pretende reforçar a equipe de moderação automatizada. A expectativa é que novas ferramentas possam reduzir as ações malignas, promovendo um ambiente digital mais seguro e transparente para todos os usuários.


