A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro mobilizou rapidamente seus familiares e aliados. No último fim de semana, uma reunião foi convocada para articular os próximos passos do grupo durante esse período turbulento. O senador Flávio Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro emergem como os personagens centrais na condução das comunicações e ações políticas da família.
A articulação inicial
Os encontros começaram no sábado, quando Flávio e Carlos Bolsonaro se reuniram com alguns senadores e deputados de seu círculo próximo. Participaram desse encontro Rogério Marinho (PL-RN), Izalci Lucas (PL-DF), Bia Kicis (PL-DF), Gustavo Gayer (PL-GO), Hélio Lopes (PL-RJ) e Zucco (PL-RS). A reunião ocorreu em um local discreto, em uma loja de doces perto do condomínio Solar de Brasília, onde Jair Bolsonaro estava cumprindo sua prisão domiciliar. De acordo com relatos dos participantes, essa foi uma tentativa inicial de estruturar uma linha de ação coesa.
Flávio como porta-voz
Durante a reunião, Flávio Bolsonaro assumiu o papel de líder e mediador das discussões, expressando a necessidade de cautela nas comunicações para evitar contradições nas informações que circulam sobre a situação do pai. Ele buscou a participação dos aliados, ouvindo suas avaliações e sugestões sobre o conteúdo a ser priorizado no Congresso na próxima semana, incluindo menções ao projeto de anistia para os envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
“A gente quer deixar claro que quem fala de forma objetiva e clara sobre toda a situação é o senador Flávio e a própria Michelle”, afirmou Zucco, líder da oposição, enfatizando o papel central que Flávio e Michelle devem desempenhar na comunicação.
O papel de Michelle
Michelle Bolsonaro, por sua vez, é vista como uma figura fundamental, especialmente entre parlamentares cristãos e entre as deputadas bolsonaristas. Seu apoio é considerado essencial para mobilizar bases femininas e religiosas. Damares Alves, deputada e aliada, destacou que “na política, o papel será compartilhado com os meninos, mas em outras situações, será ela a principal voz”.
O presidente do PP, Ciro Nogueira, também comentou sobre a situação, afirmando que “apenas Flávio e Michelle podem falar por Bolsonaro”, e que é natural que um deles assuma um papel mais proeminente, sugerindo que Flávio deve ser o porta-voz principal.
A consolidação do poder político
A avaliação de aliados de Bolsonaro nos bastidores é que uma hierarquia de comunicação está sendo estabelecida. Flávio tenta consolidar uma posição de liderança, com apoio de figuras proeminentes do Centrão e da ala tradicional do Partido Liberal. Ele já estava envolvido em diálogos com as bancadas no Congresso, avaliando as reações dos partidos e abordando temas como a anistia aos envolvidos nos eventos de janeiro.
Um olhar mais amplificado entre os parlamentares revela que, mesmo enquanto Flávio busca estabelecer uma linha direta com os líderes partidários, Michelle continua a desempenhar um papel importante, suavizando a narrativa sobre a prisão de Jair Bolsonaro e marcando a mensagem de perseguição política.
A situação da família e próximos passos
A partir da prisão, a coordenação entre os membros da família vem sendo fragmentada. Enquanto Carlos se dedica às redes sociais e Eduardo tenta repercutir a situação fora do Brasil, Jair Renan permanece próximo a seus irmãos. No entanto, Flávio se destaca como o único capaz de manter um diálogo constante e estruturado com líderes partidários, possibilitando uma resposta política mais rápida.
Aliados indicam que a definição sobre quem será o porta-voz principal dependerá da frequência das visitas ao ex-presidente e do acesso que cada membro da família terá. Assim, a luta pela liderança e pela narrativa em torno de Jair Bolsonaro parece estar apenas começando.
A interação e as articulações dos filhos de Bolsonaro e seus aliados nas próximas semanas poderão ter um impacto significativo na trajetória política do ex-presidente e do grupo no Congresso.


