Os recentes escândalos de corrupção em Kiev, relacionados a figuras próximas ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, têm gerado discussões acaloradas sobre a sua permanência no poder. A indignação global e a necessidade urgente de justiça e transparência emergem como as prioridades do povo ucraniano, em meio aos escombros deixados pelo conflito com a Rússia.
Sanções e denúncias: a operação Midas
Nos últimos dias, o presidente Zelensky confirmou a decisão do Conselho de Segurança e Defesa Nacional de impor sanções a Timur Mindič e Alexander Tsukerman, coproprietários do estúdio Kvartal-95 e próximos colaboradores do líder ucraniano. Ambos possuem cidadania israelense e se encontram fora da Ucrânia, sendo Mindič acusado de deixar o país horas antes da operação Midas, que levanta um alto grau de desconfiança em meio à luta contra a corrupção.
A operação, que carrega o nome do Rei Midas, sugere uma transformação negativa de recursos que deveriam ser utilizados em prol do país em benefício pessoal e financeiro, provocando reações adversas, especialmente por parte dos aliados ocidentais que observam com cautela os desdobramentos em Kiev e seu impacto no apoio militar à Ucrânia.
A indignação popular e o contexto de corrupção
O escândalo de corrupção é reflexo de um problema histórico na Ucrânia, onde a corrupção política é um resquício do sistema soviético e se intensificou com a transição para a economia de mercado nas três últimas décadas. A população reage com uma mistura de raiva e resignação, especialmente os mais velhos, que enfrentam não apenas a corrupção, mas também os desafios da guerra e da falta de infraestrutura em um inverno rigoroso. As renúncias de ministros, inclusive do da Justiça e da Energia, são exigidas por manifestantes que clamam por mais responsabilidade e mudanças efetivas.
Alguns analistas acreditam que o escândalo pode resultar em uma mudança de regime em Kiev. Há discussões sobre possíveis eleições ou mesmo a renúncia de Zelensky, alimentando teorias de conspiração que variam desde ações americanas até uma interferência direta do Kremlin.
Rede criminosa e subornos na energia
A investigação conhecida como Midas expõe uma vasta rede de corrupção que permeia os setores de energia e defesa. As operações da empresa estatal Energoatom revelam uma prática alarmante onde subornos variavam entre 10% e 15% de cada transação, operando por trás de uma fachada de diretores oficiais. As provas materiais, como gravações de áudio e apreensões monetárias em dólares e euros, são evidências de um sistema bem estruturado para a prática de corrupção.
A presença russa e a influência política
O escândalo também é intimamente associado a Andrei Derkach, um ex-deputado agora em Moscou, que manipulou esquemas de corrupção desde Kiev, se tornando uma figura chave nas operações ilícitas que ameaçam a estabilidade do governo ucraniano. O envolvimento de figuras vinculadas ao passado soviético revela a resistência de antigos padrões de corrupção que ainda dominam a política ucraniana.
O futuro da Ucrânia e as reformas necessárias
A busca por justiça e transparência se torna cada vez mais premente em um contexto de guerra e incerteza. O papel de Zelensky, que prometeu combater a corrupção ao ser eleito, agora é questionado por críticos que exigem mudanças significativas. As ações que ele tomar neste momento são cruciais para sua sobrevivência política e para a confiança que o povo ucraniano deposita em seu governo.
Com o retorno à identidade nacional e a busca por um futuro livre da corrupção, a Ucrânia enfrenta o desafio não apenas de vencer a guerra, mas também de reconstruir seu governo e suas instituições de uma maneira que promova a verdadeira justiça e equidade social. O tempo dirá se Zelensky poderá redimir seu legado ou se será uma vítima dos escândalos que mancharam sua administração durante um momento crítico da história do país.
*Pe. Stefano Caprio é docente de Ciências Eclesiásticas no Pontifício Instituto Oriental, com especialização em Estudos Russos. Entre outros, é autor do livro “Lo Czar di vetro. La Russia di Putin”. (Artigo publicado pela Agência AsiaNews)

