Nos meses mais quentes de 2024, o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos na América Latina tem provocado um impacto significativo na saúde mental da população. Jovens, populações indígenas e vítimas de desastres ambientais relatam aumento de ansiedade, depressão e outros transtornos relacionados à crise climática.
Repercussões da temperatura elevada na saúde mental na América Latina
Estudos revelam que a exposição prolongada ao calor e às condições ambientais adversas aumenta os riscos de transtornos psiquiátricos, ansiedade e pensamentos suicidas. Em Ecatepec, no Estado do México, Yanine Quiroz, jornalista de 33 anos, relatou sentir fadiga, agonia e ataques de pânico após testemunhar a escassez de água e o sofrimento de sua comunidade. Esses sentimentos, associados à preocupação com o clima, foram classificados como ecoansiedade, um conceito que ainda não é reconhecido oficialmente como transtorno médico, mas que vem ganhando atenção.
Impacto de desastres climáticos na saúde mental das vítimas
Casos em Acapulco e ações de auxílio psicológico
Em 2023, o furacão Otis destruiu parte de Acapulco, deixando vítimas como Diana Ruiz, que enfrentaram pânico e insegurança após o impacto do fenômeno. Psicólogos de organizações como Médicos Sem Fronteiras atuaram na região, atendendo a população e ajudando no enfrentamento do estresse agudo e dos traumas causados pelo desastre.
“O primeiro sentimento é de incredulidade, e o estresse permanece alto nos dias seguintes”, explica Berzaida López, psicóloga da entidade. Ela destaca que a preocupação com a saúde mental após eventos extremos é uma prioridade que vem sendo incorporada oficialmente desde 2011, com a criação do Marco de Sendai, pela ONU, para orientar ações de apoio psicossocial em desastres.
Desafios na preservação dos territórios e impacto indígena
Povos indígenas, especialmente no Brasil, como o povo Terena, sentem na pele os efeitos das mudanças ambientais, incluindo a perda de suas terras e o aumento da ansiedade. Regeane Oliveira Suares relata depressão e solastalgia — sentimento de luto profundo diante da destruição do ambiente natural e de seus modos de vida.
Pesquisas indicam que a destruição do habitat, o desmatamento e as mudanças climáticas elevam o risco de transtornos mentais nessas comunidades, além de minar seu senso de esperança e conexão com a terra. Especialistas ressaltam a necessidade de políticas públicas que garantam direitos territoriais e valorizem as culturas tradicionais como forma de proteção à saúde mental indígena.
Perspectivas e caminhos para ações de enfrentamento
Especialistas apontam a importância de ações integradas para mitigar os efeitos emocionais provocados pela crise climática, incluindo o ativismo consciente, espaços de diálogo e apoio psicológico especializado. Nora Leal Marchena, psiquiatra argentina, enfatiza que envolver crianças e adolescentes em ações ambientais pode reduzir sentimentos de impotência.
Na América Latina, o caminho também passa pelo reconhecimento político e pela preservação dos territórios tradicionais. Como aponta a pesquisadora Alice Poma, o ativismo pode ser uma estratégia terapêutica, além de uma forma de criar esperança coletiva diante de um cenário difícil.
Yanine Quiroz, por exemplo, busca estratégias de adaptação e reforço dos espaços de convivência e reflorestamento, para lidar melhor com o medo e o impacto emocional. “Reconhecer nossas emoções e buscar ações concretas é fundamental para enfrentarmos essa crise”, afirma.
Esta reportagem foi originalmente publicada no Dialogue Earth, em parceria com a América Futura, seção do jornal El País. Leia o texto original aqui.
