A expectativa do setor de café no Brasil ganhou força após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelar, em entrevista à Fox News na terça-feira, que deve baixar as tarifas de importação do produto. A iniciativa, embora ainda sem detalhes precisos, mira beneficiar principalmente o exportador brasileiro, que atualmente enfrenta tarifas de 50%, as maiores entre os principais fornecedores do mercado americano.
Possível redução de tarifas e impacto no mercado de café
Trump não citou nominalmente o Brasil, mas especula-se que a alíquota possa ser reduzida de 50% para 10%, patamar mínimo imposto a outros países. A expectativa do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) é que a tarifa seja completamente eliminada, e isso possa ajudar o Brasil a retomar espaço no mercado americano, que vem sendo perdido desde o início de 2025.
Otimismo e negociações em andamento
Reforçando as declarações do presidente americano, ontem o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, indicou que o governo deverá anunciar em breve medidas para reduzir tarifas de café, frutas e outros alimentos. Segundo ele, os detalhes ainda estão sendo negociados, mas o movimento ocorre após a derrota do Partido Republicano nas eleições locais na última semana.
Negociações e esforços diplomáticos
Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, afirmou que o setor mantém contato contínuo com o vice-presidente Geraldo Alckmin, responsável pelas negociações comerciais, além de estabelecer diálogo com empresas de torrefação e órgãos do governo dos EUA. “Estamos prontos para responder rapidamente ao possível alívio tarifário”, declarou.
Impactos no mercado americano e desafios recentes
Dados do Cecafé mostram que, após a aplicação do tarifaço de 50% em agosto, as exportações brasileiras de café para os EUA caíram 51,5%, totalizando menos de 1 milhão de sacas entre agosto e outubro de 2025. Em comparação, a venda de janeiro a outubro de 2024 totalizou aproximadamente 41,8 milhões de sacas, indicando uma retração significativa na participação do Brasil no mercado americano.
Além disso, a perda de competitividade foi agravada pela recente ordem executiva dos EUA de setembro, que reduziu tarifas para diversos países a 10%, tornando os cafés de origem brasileira mais caros e menos atrativos. Como consequência, países como a Alemanha ultrapassaram o Brasil como principal exportador para os EUA, com 4,34 milhões de sacas importadas até outubro de 2025.
Perspectivas de recuperação e desafios
Segundo Matos, se o tarifamento continuar elevado, o setor brasileiro perderá ainda mais espaço e visibilidade no mercado americano, que é o maior destino do café brasileiro. Para Celírio Inácio, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o governo dos EUA reconheceu que produtos como o café, produzidos fora do país, deveriam ter isenção tarifária, dependente de acordos bilaterais.
Em resposta às incertezas, o chanceler Mauro Vieira realizou, ontem, uma rápida reunião com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, na margem da reunião do G7 em Niagara, no Canadá. O encontro, de apenas cinco minutos, buscou manter aberto o canal de diálogo entre os dois países, com a expectativa de uma nova rodada de negociações na cidade de Washington nesta quinta-feira.
Dados recentes e o cenário brasileiro
De agosto a outubro, os EUA adquiriram cerca de 983.970 sacas de café brasileiro, uma queda de 51,5% em relação ao mesmo período de 2024. No acumulado de janeiro a outubro, as exportações brasileiras de café totalizaram 33,3 milhões de sacas, uma redução de 20,3%, embora a receita cambial tenha aumentado 27,6%, atingindo US$ 12,7 bilhões.
Embora o Brasil continue sendo o maior fornecedor de café para os EUA, a exportação para esse mercado caiu drasticamente desde o início da aplicação das tarifas. A recuperação dependerá, majoritariamente, do sucesso nas negociações diplomáticas e do possível alívio tarifário.


