A economista francesa Esther Duflo, vencedora do Prêmio Nobel de Economia de 2019, participa da COP30 em Belém para promover o “Pix do clima”, uma proposta que visa garantir recursos de adaptação às populações mais pobres por meio de transferências diretas. Ela afirma que um financiamento de US$ 1,3 trilhão, recolhido principalmente de países ricos, é essencial para impulsionar a transição econômica dos países em desenvolvimento.
O conceito do “Pix do clima” e o financiamento global
Durante entrevista exclusiva ao GLOBO, Duflo explicou que a ideia fundamental é estabelecer uma barganha internacional em que países ricos compensam os mais vulneráveis pelos impactos das mudanças climáticas, transferindo recursos ligados a esse “Pix do clima”. Essa abordagem inclui a implementação de um mecanismo de precificação do carbono, aliado a transferências de renda para populações pobres, fortalecendo a equidade na luta global contra o aquecimento.
Desafios e expectativas na COP30
Perguntada sobre o provável avanço da COP30 na concretização dessas metas, Duflo afirmou que, embora conheça bem o roteiro, ainda é cedo para determinar se haverá respostas concretas. “Nas discussões iniciais, os países ricos reiteram a importância de reduzir emissões, enquanto os países pobres questionam onde está o financiamento”, comentou a economista. A expectativa é que, até a próxima década, um acordo firme seja alcançado.
Financiamento throughTaxas e Justiça Tributária
Um documento apresentado na COP30 sugere a criação de impostos sobre itens de luxo, grandes fortunas e produtos com alta pegada de carbono. Duflo acredita que há forte demanda social por esse tipo de tributação justa, uma vez que muitos cidadãos de países desenvolvidos percebem a necessidade de cobrar mais de suas elites econômicas. “A proposta apresentada pelo Brasil no G20 foi bastante popular, mesmo que ainda não tenha sido aprovada”, explicou.
Implementação e resistência
Ela destacou que a implementação de uma taxação diferenciada do carbono, que varia entre países de baixa, média e alta renda, é uma forma de articular responsabilidades conforme o princípio de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” (CBDR). “Um preço menor do carbono para países mais pobres faz sentido, já que eles têm menor capacidade de fiscalizar e pagar altos impostos”, argumenta.
Mercados voluntários de carbono e comunicação científica
Duflo criticou veementemente os projetos voluntários de créditos de carbono, classificando-os como “greenwashing” ou uma mera tentativa de deslocar esforços de mitigação. Ela reforçou que a precificação obrigatória do carbono é o caminho para ações mais efetivas. Segundo ela, também é fundamental melhorar a comunicação científica para embasar políticas públicas mais eficazes, algo que, ela acredita, vem evoluindo, mas ainda enfrenta desafios na escuta das autoridades.
Responsabilidade dos países em desenvolvimento e o papel do Brasil
Sobre o uso do conceito de responsabilidades diferenciadas, a economista defendeu que países com menor renda devem pagar um preço menor pelo carbono, como US$ 10 a US$ 50 por tonelada, tornando mais viável a implementação de medidas como a perfuração de petróleo na Amazônia. “Quem paga menos, leva em conta suas limitações, sem abrir mão de sua responsabilidade”, afirmou.
Perspectivas futuras e o papel da ciência na política climática
Duflo reconhece a evolução na comunicação científica, mas ressalta que é necessário maior vontade política para transformar conhecimento em ações efetivas. “Somos melhores em comunicar o que fazemos, mas o interesse político de ouvir os cientistas ainda é um desafio”, concluiu.
(*O repórter viajou a convite da Motiva)
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