O Banco do Brasil registrou uma forte redução no lucro líquido ajustado do terceiro trimestre, que totalizou R$ 3,785 bilhões, uma queda de 60,2% em relação ao mesmo período de 2024, devido às novas regras contábeis e ao aumento da inadimplência, conforme balanço divulgado na noite desta quarta-feira (12).
Impacto da inadimplência e mudanças na contabilidade
Nos nove primeiros meses do ano, o banco acumulou lucro de R$ 14,943 bilhões, recuo de 47,2% frente ao mesmo período de 2024. Em 2024, o banco alcançou um lucro recorde de R$ 37,9 bilhões. Apesar da queda, o resultado do terceiro trimestre manteve-se praticamente estável em relação aos R$ 3,784 bilhões registrados de abril a junho.
Em nota, o Banco do Brasil destacou que a geração de receitas tem apresentado crescimento, apesar das pressões causadas pela inadimplência. A instituição atribui parte desse desempenho ao Programa Crédito do Trabalhador, que unifica a contratação de crédito consignado para trabalhadores de empresas privadas.
“O crescimento da margem [financeira bruta] no trimestre foi calcado principalmente em negócios com clientes, com destaque para as receitas com operações de crédito, influenciadas positivamente pelo desempenho no Crédito do Trabalhador, que contribui para a melhoria de mix e do retorno ajustado ao risco, além da boa gestão da liquidez”, informou o banco.
Alterações nas regras de contabilidade e impacto nos resultados
Desde janeiro, entrou em vigor uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) que alterou a contabilidade das instituições financeiras, fazendo com que as novas regras, aprovadas em 2021, passassem a valer neste ano. Essas mudanças passaram a definir o modelo de provisões (reservas financeiras para cobrir possíveis calotes) com base na perda esperada por estimativas.
Pelas novas regras, o reconhecimento das receitas de juros de operações considerados estágio 3 — com atrasos superiores a 90 dias — pelo regime de caixa, fez com que o banco deixasse de registrar R$ 1 bilhão em receitas de crédito. O regime de caixa só reconhece receitas quando o dinheiro entra efetivamente no caixa do banco.
Aumento da inadimplência
O índice de inadimplência, que considera atrasos superiores a 90 dias, subiu para 4,93% no terceiro trimestre, ante 4,21% no mesmo período de 2024 e 3,33% no terceiro trimestre do ano passado. O resultado é influenciado principalmente pelos segmentos do agronegócio, onde o banco lidera na concessão de crédito, e cartões de crédito.
Revisão das projeções para 2025
Com a redução do lucro, o Banco do Brasil revisou suas projeções para o restante do ano. Os novos números indicam um lucro líquido ajustado entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões, abaixo da estimativa anterior de R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões. Além disso, o custo do crédito foi ajustado para uma faixa de R$ 59 bilhões a R$ 62 bilhões, acima da previsão anterior de R$ 53 bilhões a R$ 56 bilhões.
Crescimento do crédito e distribuição por segmentos
No terceiro trimestre, a carteira de crédito totalizou R$ 1,279 trilhão, uma retração de 1,2%, mas um aumento de 7,5% em 12 meses. A distribuição por segmentos mostra:
- Pessoa Física: R$ 350,51 bilhões, aumento de 2,3% no trimestre e 7,5% em um ano, com destaque para o crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada, com R$ 9,2 bilhões emprestados.
- Pessoa Jurídica: R$ 452,97 bilhões, recuo de 3,2% no trimestre, mas alta de 10,4% em um ano, incluindo grandes empresas (R$ 258,9 bilhões) e micro, pequenas e médias empresas (R$ 118,5 bilhões).
- Agronegócio: R$ 398,79 bilhões, queda de 1,5% no trimestre, mas alta de 3,2% em 12 meses, com previsão de empréstimos de R$ 230 bilhões no próximo ciclo do Plano Safra 2025/2026.
- Carteira de Crédito Sustentável: R$ 399 bilhões, crescimento de 8% em 12 meses, representando 32,9% do total de crédito do banco, financiando atividades socialmente e ambientalmente responsáveis.
Receitas, despesas e Dividendos
As receitas de prestação de serviços alcançaram R$ 8,863 bilhões no terceiro trimestre, alta de 1,3% na comparação com o trimestre anterior, mas queda de 2,6% em relação a setembro de 2024. Os principais destaques foram ganhos com administração de fundos, seguros, previdência e capitalização, além de consórcios.
As despesas administrativas totalizaram R$ 9,812 bilhões, aumento de 1,4% frente ao primeiro trimestre e 4,7% perante setembro de 2024, justificado pelos reajustes salariais e investimentos em tecnologia.
Em relação aos dividendos, o banco reduziu de 40% para 30% a parcela do lucro distribuída aos acionistas em julho. Além disso, a projeção de dividendos para 2025 foi revisada para R$ 41,9 bilhões, contra R$ 43,4 bilhões inicialmente previstos.



