O debate intitulado “Justiça climática, democracia e direito à vida: diálogo inter-religioso pela justiça ambiental” trouxe à tona questões cruciais sobre a responsabilidade das indústrias na destruição do meio ambiente e a necessidade de ações efetivas para promover a justiça climática. O evento aconteceu em meio às atividades do Tapiri Ecumênico e da Cúpula dos Povos, iniciativas importantes da agenda da COP30.
Reflexões do bispo Dom Vicente Ferreira
Durante o debate, Dom Vicente Ferreira, bispo de Livramento de Nossa Senhora, na Bahia, destacou como a força das narrativas disseminadas pelas indústrias pode obscurecer a realidade do impacto ambiental de suas operações. “Em nossos territórios, muitas vezes ouvimos que essas indústrias são grandes defensoras da vida, mas a verdade é que elas estão matando nosso povo e destruindo nossas terras”, afirmou.
O prelado ressaltou que a sua missão envolve um forte compromisso em promover uma ecologia integral, e mencionou diversas iniciativas da Igreja que têm gerado frutos reais. “Nos últimos anos, trabalhamos em campanhas que mobilizaram nossas comunidades locais e trouxeram à tona a importância da ecologia diante dos desafios sociais”, explicou.
Ações reais e propostas concretas
Dom Vicente compartilhou detalhes sobre campanhas conjuntas que antecederam a COP30, enfatizando que as ações da igreja são resultados de uma escuta atenta às necessidades das populações. “Foram mais de dois anos de reuniões, conscientizando e chamando as comunidades a valorizarem a ecologia integral”, disse, enfatizando que essas iniciativas estão longe de serem meros discursos.
O bispo também mencionou o manifesto pela ecologia integral, que se baseia na encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco e propõe uma relação mais justa entre a crise socioambiental e as praticas comunitárias. Segundo ele, o documento é uma resposta necessária à crise planetária, focando na conexão entre a vida social e ambiental.
Combate à desinformação e falsas narrações
No âmbito das discussões, Dom Vicente fez um alerta sobre as “soluções falsas” que, segundo ele, reduzem a ecologia a meras considerações estéticas, sem levar em conta a justiça social. Ele argumentou que essa narrativa se torna cada vez mais predominante em um mundo onde o capitalismo “se torna verde” e as soluções que deveriam ser sustentáveis frequentemente servem apenas aos interesses financeiros.
O bispo enfatizou a urgência da conversão ecológica e inter-religiosa, convocando todas as espiritualidades a se unirem na defesa da casa comum. “Precisamos nos unir em um só espírito se quisermos enfrentar essa crise. A ecologia integral não é apenas uma escolha personalista, mas também uma opção de Deus, que se fez pobre e se encarnou entre nós”, concluiu.
Contribuições de outras vozes religiosas
O debate contou ainda com a participação da bispa anglicana Marinez Bassotto, do pastor Josias Vieira, e de representantes de outras denominações, que trouxeram suas perspectivas sobre a importância da justiça ambiental. Essas intervenções enriquecem a discussão, mostrando que a busca por justiça climática é um esforço coletivo e multifacetado.
Por meio desse tipo de diálogo, as lideranças religiosas perseguem não apenas uma resposta à crise ambiental, mas também uma ação orientada pelos princípios da justiça social e solidariedade. A participação ativa da Igreja e de diferentes tradições religiosas prova que a luta pela justiça climática transcende fronteiras, convidando todos a serem protagonistas nesse esforço.
O evento foi um marco na Cúpula dos Povos, reforçando que a justiça climática deve ser uma prioridade global e requer uma abordagem inter-religiosa para efetivamente proteger nosso planeta e as populações mais vulneráveis diante da crise ambiental.
O chamado de Dom Vicente e de outros líderes religiosos ressoa um apelo urgente por ações concretas que respeitem tanto a vida humana quanto a saúde do planeta, evidenciando que a salvação da Terra é uma missão que deve ser partilhada por todos.


