Na última semana, uma megaoperação da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) visou desarticular as atividades do Comando Vermelho, uma das facções criminosas mais poderosas do Brasil. No entanto, durante uma reunião da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional, o subsecretário de inteligência da PMERJ, capitão Daniel Ferreira de Souza, afirmou que o impacto da operação foi “ínfimo” e teve um papel majoritariamente simbólico.
A declaração do subsecretário
Em sua fala na quarta-feira (5), Daniel Ferreira destacou que, apesar dos números expressivos – como a apreensão de armamentos, a prisão de vários indivíduos e a morte de 117 suspeitos – esses resultados não foram suficientes para abalar de maneira significativa a estrutura do Comando Vermelho e das demais facções que atuam no estado. “Ainda assim foi algo ínfimo dentro do poder do Comando Vermelho e das outras facções na estrutura do Rio de Janeiro”, disse.
O capitão Ferreira explicou que a operação foi importante, mas apenas do ponto de vista simbólico. Para ele, essa ação representou uma tentativa do estado de demonstrar sua capacidade de intervenção em áreas dominadas por facções criminosas. “Isso não resolveu, foi importante a nível simbólico para o estado mostrar que ele é capaz de entrar em qualquer local”, afirmou.
Impacto limitado e fuga de líderes
Segundo informações apuradas, das 117 mortes registradas na operação, 62 eram de indivíduos que não eram do Rio de Janeiro, mas de outras partes do Brasil, principalmente do Nordeste e Norte. Entre os mortos, estavam lideranças do tráfico de drogas de estados como Pará, Bahia, Espírito Santo e Goiás. Esta movimentação, segundo o capitão, pode ter um efeito contrário ao que se esperava, uma vez que pode levar a uma deterioração ainda maior das influências regionais e da cooptação de facções locais.
Discussão sobre a expansão das facções
A reunião que reuniu membros da Polícia Federal, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e legisladores teve como foco a discussão sobre a expansão das facções criminosas em todo o Brasil. A presença de líderes de diferentes estados no evento deixou evidente a complexidade do problema, que ultrapassa as fronteiras do Rio de Janeiro e indica a necessidade de uma abordagem mais abrangente e eficaz para lidar com o tráfico de drogas e o crime organizado no país.
A retórica do Comando Vermelho
Em suas declarações, o capitão Ferreira manifestou que a operação conseguiu subverter a retórica que o Comando Vermelho utilizava para atrair lideranças de estados próximos. No entanto, ele reforçou que ações pontuais, como essa operação, não serão suficientes para resolver o problema estruturante do tráfico no Brasil. “Então se essa operação não vai resolver o problema, e a gente sabe que não vai, ao menos mostrou que a retórica que o Comando Vermelho usava para atrair lideranças do Brasil, ela foi subvertida”, completou.
O futuro das operações policiais
À luz do que foi apresentado na reunião, é evidente que as autoridades brasileiras enfrentarão um desafio monumental no combate ao crime organizado. Enquanto a operação contra o Comando Vermelho pode ter apresentado alguns resultados imediatos, o agente fundamental para o sucesso a longo prazo exigirá uma abordagem mais integrada que englobe não apenas operações policiais, mas também programas sociais, investimentos em educação e intervenções que ajudem a diminuir a desigualdade e a marginalização que alimentam o recrutamento para o crime.
O que se viu na operação, portanto, é um alerta sobre a importância de estratégias que transcendam as ações tradicionais de repressão, buscando um verdadeiro combate às raízes do problema da criminalidade no Brasil. Com facções como o Comando Vermelho se expandindo e se organizando de maneira mais complexa, a luta das autoridades parece estar apenas começando.

