Circula nas redes sociais um vídeo de 15 minutos que alega ser o depoimento de uma mãe de um traficante morto durante uma megaoperação policial no Rio de Janeiro. Este conteúdo, que já conta com mais de 530 mil visualizações no YouTube, foi identificado como #FAKE, sendo produzido com tecnologia de inteligência artificial. A situação se agrava considerando que o material viralizou após uma operação policial que resultou em 121 mortes, despertando emoções e polêmicas na sociedade.
Como é a publicação falsa?
O vídeo, postado no último domingo (2), apresenta o título “Meu filho escolheu caminho errado! Eu avisei: mãe de traficante morto na operação do Rio fala tudo”. Nele, uma mulher, aparentemente em desespero, exibe um cartaz com o rosto de um jovem e expressa, em lágrimas: “Meu filho estava errado. Ele escolheu o caminho errado”. Apesar da dramaticidade, uma análise atenta revela que a cena foi criada inteiramente por inteligência artificial.
A descrição do vídeo sugere que a mãe traz uma mensagem poderosa sobre a luta contra o crime, elogiando o trabalho das forças de segurança. Contudo, há um aviso no próprio vídeo indicando que se trata de uma dramatização fictícia: “Este vídeo é uma dramatização baseada em histórias e situações que fazem parte da realidade de muitas comunidades brasileiras. Todos os personagens e falas são ficcionais”. Embora haja um alerta, muitos internautas não perceberam a enganação e responderam em um tom emocional, reconhecendo a dor da mãe, o que pode considerar a relevância de compreender a veracidade dos conteúdos que consumimos.
A megaoperação e o contexto do vídeo
A visibilidade deste vídeo ocorreu em um contexto muito sensível, já que a operação policial nos complexos do Alemão e da Penha foi classificada como a mais letal da história do estado do Rio de Janeiro. A repercussão da operação, incluindo suas consequências e as mortes decorrentes, rapidamente gerou um clima de debate nas redes sociais, e a criação desse vídeo falso pode ter sido uma estratégia para promover uma narrativa determinada, explorando a tragédia e a dor de muitas famílias que vivem nas comunidades afetadas.
Por que isso é mentira?
A verificação realizada pelo Fato ou Fake utilizou o SynthID Detector do Google, ferramenta que analisa conteúdos gerados por inteligência artificial. O resultado foi categórico: a plataforma identificou que o vídeo foi gerado com IA, atestando a veracidade da informação que aponta para a fake news. A tecnologia da Google consegue inserir marcas d’água digitais em conteúdos fabricados sinteticamente, que, embora invisíveis para o olho humano, são detectáveis através de sistemas apropriados.
Outra verificação feita pelo Fato ou Fake indicou que o áudio do vídeo tinha uma pontuação alarmante de 1 em um ranking de autenticidade de 0 a 100, reforçando que se trata de um deepfake. Essa técnica tem gerado preocupações crescentes sobre a manipulação digital e suas implicações sociais, políticas e éticas, uma vez que permite alterar conteúdos de vídeos e fotos, criando narrativas enganosas que podem influenciar a opinião pública.
Os danos das fake news
O impacto desse tipo de conteúdo vai além do que parece à primeira vista. A disseminação de fake news pode gerar desconfiança nas informações autênticas, prejudicar o entendimento das situações sociais e políticas, e até mesmo contribuir para a estigmatização das comunidades retratadas. Ao criar narrativas falsas, alimentadas por emoções intensas e a emergência de eventos trágicos, o público pode se tornar alvo de manipulações que não refletem a realidade, distorcendo a memória coletiva e o debate público.
Concluindo, a criação e disseminação de conteúdos fictícios por meio de inteligência artificial, especialmente em contextos extremo como o do Rio de Janeiro, evidenciam a necessidade de um consumo crítico das informações nas redes sociais. Verificar a autenticidade das informações deve ser uma prática indispensável, principalmente quando se trata de eventos que envolvem dor e tragédia. Cabe a todos nós sermos vigilantes e críticos em um mundo onde a linha entre o verdadeiro e o falso se torna cada vez mais tênue.


