Na aguardada estreia de “Hedda”, dirigido por Nia DaCosta e com atuação de Tessa Thompson, o enredo ganha uma nova perspectiva ao reimaginar a personagem como mulher de cor na Inglaterra dos anos 1950. Em entrevista exclusiva, as duas artistas compartilham os bastidores da produção, a importância do protagonismo negro e a força da raiva feminina na trama.
A origem da adaptação e a escolha de Tessa Thompson
Nia DaCosta explica que escreveu o roteiro há alguns anos, mas esperou o momento certo para dar vida à sua visão. “Foi uma progressão natural. Enquanto trabalhava em ‘Top Boy’ e depois em ‘Candyman’ e no filme da Marvel, o projeto ficou sempre presente na minha mente. Quando senti que era hora, consegui realizar”, afirma. Quanto à decisão de fazer Hedda uma mulher negra, ela revela que foi uma escolha consciente para refletir a diversidade e desafiar o racismo estrutural na história.
Tessa Thompson, por sua vez, revela que sempre teve uma conexão profunda com a personagem. “Antes de ler o roteiro da Nia, tinha um vínculo maior com Nora de ‘Casa de Bonecas’. Mas Hedda sempre me fascinou, por sua complexidade e mistério”, conta. Ela destaca que a chance de trabalhar com Nia também foi um grande diferencial. “Quando li o roteiro, entendi o quanto ela trouxe de urgência e autenticidade à personagem, o que tornou tudo ainda mais irresistível.”
Raiva feminina e representatividade racial
Na conversa, Nia refletiu sobre como a personagem, ao ser uma mulher de cor, revela as diferentes formas de isolamento e opressão. “Ela está cercada de expectativas e, ao mesmo tempo, marcada pela sua raça. Isso a distancia de certas conexões e amplifica sua luta por liberdade”, explica. Tessa acrescenta que essa camada racial traz uma nova dimensão à narrativa de raiva feminina, muitas vezes negligenciada na história do teatro e do cinema.
O cenário dos anos 1950 e sua relevância
Ambientar a história na década de 1950 permite explorar uma era de repressão e controle social. Nia afirma que o período espelha as tentativas de reprimir desejos e identidades, especialmente para mulheres e pessoas LGBTQ+. “O ‘50s representa uma época de sufocamento, mas também de resistência silenciosa”, diz ela. Tessa traz sua experiência pessoal ao mencionar que se inspirou nas histórias de suas avós, mulheres dessa época, para dar autenticidade às suas interpretações.
Interpretando Hedda no século XXI
Ao ser questionada sobre a força da personagem, Tessa destaca que Hedda é uma figura que desafia a simplificação deboque ou vilã. “Ela é complexa, cheia de nuances. Como atores, temos a oportunidade de explorar essa multiplicidade de emoções e questionar nossas próprias percepções de moralidade”, afirma. Nia ressalta que a personagem, ao expressar sua raiva e caos, também é uma forma de resistência contra as limitações impostas às mulheres ao longo do tempo.
Momentos reveladores e aprendizados
Nia comenta que ver as atuações durante as gravações muitas vezes revela detalhes inesperados. “Uma cena especial é quando Tessa, interpretando Hedda, faz o som ao pegar a arma no final, algo tão humano e sincero que mexeu comigo profundamente”, revela. Tessa reflete sobre o crescimento que vivenciou ao investigar o personagem e a parceria de uma década com Nia. “A cada projeto, redescobrimos um ao outro e isso enriquece a nossa criação”, conclui.
O impacto de Hedda e possibilidades futuras
Ao pensar na continuidade da história, as duas já brincam com ideias de sequências ou prequels. Nia sugere uma série chamada “The Dance”, que exploraria os anos anteriores à história, enquanto Tessa brinca com a ideia de um prequel ou até mesmo uma produção focada na lua de mel da personagem. “Quem sabe um dia, teremos novos capítulos dessa narrativa fascinante”, especulam as artistas.
“Hedda” já está nos cinemas e disponível na Prime Video, trazendo uma abordagem inovadora e poderosa sobre o feminino, o racismo e o caos criativo. Uma obra que promete provocar reflexões profundas sobre quem somos e quem podemos nos tornar.


