A proposta do governo chileno para regular o uso de inteligência artificial (IA) está gerando debate acalorado no país, com resistência de grandes empresas tecnológicas internacionais. A legislação, que passa pelo Congresso, visa classificar sistemas de IA de acordo com o risco e estabelecer regras de transparência e segurança, mas enfrenta críticas por parte de executivos do setor.
Marco regulatório pioneiro na América do Sul
Se aprovada, a legislação posicionaria o Chile na vanguarda regulatória das economias emergentes, ao estabelecer um modelo de regras proporcionais ao potencial de dano das tecnologias de IA. Segundo o Ministério da Ciência chileno, a lei busca garantir inovação responsável, confiança e segurança jurídica ao setor. Mais detalhes
Implementação e desafios políticos
Apesar do avanço no Congresso, especialistas alertam que a implementação da legislação pode exigir regulamentos adicionais, o que pode atrasar a aplicação prática. O diretor do CENIA, Rodrigo Durán, destaca que há um descompasso entre a percepção pública sobre a tecnologia e a complexidade regulatória necessária. “O aparato estatal ainda carece de ferramentas e de vontade política para liderar essa estratégia”, afirma.
Investimentos estrangeiros e infraestrutura digital no Chile
O Chile vem atraindo gigantes da tecnologia, como a Amazon Web Services, que investirá US$ 4 bilhões em três data centers na capital Santiago, e o Google, que planeja uma nova instalação e instalação de cabos de dados submarinos de 14.000 km até a Austrália. O crescimento da capacidade de data centers no país triplicou desde 2015, chegando a 240 megawatts, com previsão de ultrapassar 500 megawatts até 2030, impulsionado pelo aumento do uso de IA e digitalização.
Impacto econômico e político
O desenvolvimento tecnológico é fundamental para o Chile, que ocupa a segunda posição na América Latina em capacidade instalada de data centers, atrás do Brasil. Segundo Francisco Basoalto, da Colliers, a expansão ocorre devido à matriz energética renovável e à conectividade de alta velocidade. Contudo, há um alerta por parte de especialistas quanto à necessidade de uma legislação clara e previsível para evitar prejuízos à atração de capital tecnológico.
Polêmica e resistência internacional
Executivos de empresas como AWS e representantes do setor criticam a legislação chilena por considerar suas regras demasiado rígidas e por atrasar o progresso tecnológico. Felipe Ramírez, gerente da AWS no Chile, explica que processos regulatórios demorados podem tornar o país menos atrativo para investimentos. Além disso, há preocupação de que o projeto de lei possa limitar projetos de inovação, como o LatamGPT de Boric.
Entretanto, os defensores argumentam que regulamentações responsáveis são essenciais para evitar riscos à sociedade, especialmente considerando o potencial de dano de sistemas de IA considerados de alto risco. O projeto de lei define penalidades que podem chegar a US$ 1,5 milhão para infrações.
Perspectivas futuras e impactos regionais
A legislação chilena faz parte de uma estratégia maior de integrar o país ao mapa global de inovação, enquanto caminha para regular uma indústria em rápida expansão. A postura do Chile pode influenciar outros países latino-americanos, que atualmente adotam uma abordagem mais indecisa ou descoordenada na regulamentação de IA.
Com o avanço da tecnologia e o interesse de investidores internacionais, o Chile busca equilibrar estímulos econômicos com proteção ética, embora o debate ainda esteja longe do consenso total. A aprovação final da lei e sua efetivação ainda dependem de desafios políticos e técnicos a serem superados.
 
 
 
 

