A crise de segurança pública no Rio de Janeiro acirrou as relações entre o governador Cláudio Castro e o governo federal, liderado por Lula. O ponto central desse desacordo são os veículos blindados solicitados pelo governador fluminense, que se tornaram um motivo de intensa troca de acusações. O pedido foi formalizado pela primeira vez em janeiro passado, após a trágica morte da capitã de Mar e Guerra, Gisele Mendes de Souza e Mello, que foi baleada em um incidente no Hospital Naval Marcílio Dias, na Zona Norte do Rio.
Contexto da solicitação de blindados
A capitã Gisele foi fatalmente atingida enquanto participava de uma cerimônia no auditório da Escola de Saúde da Marinha, que compõe o complexo hospitalar. O evento chocou não apenas as forças armadas, mas a sociedade como um todo, acentuando a necessidade de medidas mais rigorosas de segurança. O governador Castro justificou seu pedido ao afirmar a necessidade premente de ação para proteger a população e os membros das forças armadas.
No documento encaminhado ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, Castro solicitou a “valiosa cooperação e apoio logístico da Marinha do Brasil”, enfatizando o uso de blindados equipados com operadores e mecânicos para intervir em áreas de risco no estado. A proposta foi bem recebida pelo Ministério da Defesa, mas enfrentou resistência ao chegar na Casa Civil.
Rejeição do uso de blindados
O governo federal alegou que a utilização dos blindados estaria condicionada à declaração de uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), um mecanismo constitucional que permite o uso das Forças Armadas em operações de segurança pública. Essa medida é exclusividade do presidente da República, e Lula expressou sua oposição à sua aplicação no momento atual, o que gerou uma série de críticas de Castro.
Impacto da operação contra o Comando Vermelho
A recente megaoperação desencadeada contra o Comando Vermelho, que deixou quase 70 mortos em várias confrontos, trouxe a questão da segurança pública novamente à tona. Com 2,5 mil policiais mobilizados, a ação gerou uma resposta popular mista, com muitos cidadãos apoiando a ação, enquanto outros expressaram preocupações sobre a violência e os excessos durante a operação.
A operação foi uma resposta direta ao controle territorial crescente do crime organizado na cidade, que inclui não apenas o CV, mas diversas facções que atuam no tráfico de drogas. Entre os 25 mandados de prisão emitidos, muitos são líderes ou integrantes do tráfico que atuam em áreas periféricas e urbanas do Rio.
Consequências para a segurança pública
O impacto dessas ações tem sido profundo. Fechamentos de escolas e estabelecimentos comerciais foram registrados, refletindo a tensão no ar durante as operações. Para muitos cidadãos, a sensação de insegurança aumentou, apesar das operações de segurança realizadas pelas forças locais. Ao mesmo tempo, o governador Castro aparece como uma figura polarizadora, tentando fortalecer sua imagem em meio a críticas e alegações de que não está fazendo o suficiente para proteger a população.
As trocas de acusações ocorrendo no cenário político também indicam que, a menos de um ano das eleições de 2026, tanto Lula quanto Castro estão monitorando de perto a maneira como suas decisões e ações podem afetar suas popularidades e futuras aspirações políticas.
A resposta do governo federal
Em nota oficial, o Ministério da Defesa respondeu que a solicitação de Castro foi analisada pela Advocacia-Geral da União (AGU), que concluiu que a liberação dos blindados apenas poderia ocorrer dentro do contexto de uma GLO, exigindo um decreto presidencial. Este procedimento rigoroso, segundo especialistas, é fundamental para garantir que as ações das Forças Armadas não extrapolem os limites constitucionais e legais, respeitando a ordem pública e os direitos humanos.
A tensão entre o governador do Rio e o governo federal não deve se dissipar tão facilmente. Enquanto as operações no Rio continuam, e a necessidade de uma solução para a segurança pública permanece urgente, a crise sobre o uso de blindados representa um símbolo maior das divisões políticas da atualidade. Muitos se perguntam se a política de segurança atual está sendo efetiva ou se medidas mais drásticas serão necessárias para restaurar a ordem e proteger os cidadãos.
 
 
 
 


