No contexto do intenso conflito entre Israel e Hamas, o reitor do seminário do Patriarcado Latino de Jerusalém compartilha suas reflexões sobre as feridas da guerra e a busca esperançosa por um futuro de paz. Em uma entrevista com a mídia vaticana, ele enfatiza a importância da justiça para o povo palestino como um passo essencial para a paz duradoura.
O papel da esperança em meio ao sofrimento
A reunião da comunidade do seminário com a proposta de trégua mediada pelos Estados Unidos deixa um resíduo de alegria e apreensão. “Na segunda-feira, nossa reação inicial foi de alegria, mas logo se transformou em gratidão e esperança prudente”, declarou o reitor. Essa manifestação emocional reflete a complexidade da situação: um primeiro passo necessário para o fim dos ataques, mas que não pode ser visto como uma solução definitiva.
O chamado à ação é claro. O Patriarcado Latino lembra que a verdadeira paz requer mais que um cessar-fogo; demanda a recuperação da confiança e uma nova liderança capaz de romper ciclos de violência. “As feridas são profundas; a confiança foi abalada”, ressalta. A mensagem do Papa Francisco de que “na guerra todos perdem” é um lembrete constante do custo humano do conflito e da importância do diálogo.
A formação dos seminaristas em tempos de guerra
O impacto da guerra é visível na formação dos seminaristas que estudam no local. As limitações de viagem e a falta de acesso às embaixadas complicam a formação e o trabalho pastoral, tornando necessário atravessar fronteiras, como a ida a Chipre para obter vistos. No entanto, essas dificuldades são transformadas em oportunidades de resiliência e aprendizado.
“Quando as condições ficam difíceis, a fé se torna mais visível”, afirma o reitor, que certifica que a formação aprofundada em doutrina social é vital para preparar os futuros sacerdotes a lidarem com o sofrimento de seu povo. A cura das feridas causadas pela guerra requer uma abordagem que una justiça e misericórdia, e a fé é tratada como um pilar essencial nesse processo.
Práticas de cura dentro da comunidade
Além do ensino formal, a comunidade do seminário se compromete a intensificar seus atos de cuidado pastoral. O reitor destaca a importância de atender às necessidades emocionais e espirituais dos seminaristas e das pessoas afetadas pelo conflito. “A Igreja precisa ser um lugar de cura e confiança, um espaço que permita a reconstrução da fraternidade”, explica.
O cardeal Pierbattista Pizzaballa enfatiza que a reconciliação é um processo que leva tempo e exige um forte senso de liderança. “As cicatrizes da guerra não desaparecerão assim que a violência cessar. Elas permanecem conosco e moldam nossa memória coletiva”, conclui.
Reação da comunidade local e engajamento pastoral
Na cidade de Beit Jala, onde o seminário está localizado, a comunidade cristã é predominantemente composta por pessoas que mantêm viva a esperança, mesmo diante das adversidades. Desde antes do conflito, iniciativas educativas e espirituais têm buscado alimentar uma fé que dialoga com a realidade local. “A resposta dos leigos a cursos de formação espiritual foi impressionante”, afirma o reitor.
As paróquias têm enfatizado valores como perdão e busca pela verdade, por mais desafiador que isso possa ser em tempos difíceis. “Viver o Evangelho exige que não sejamos passivos. Devemos ser luz em meio à escuridão da crise”, aponta.
Solidariedade com as vítimas do conflito
O seminário também assume um papel ativo em apoiar as vítimas do conflito. A missão principal de formação sacerdotal é acompanhada por uma forte dimensão caritativa. Desde o início da guerra, a comunidade demonstrou solidariedade, buscando contato e contribuindo com recursos para aqueles que necessitam. O reitor relata um gesto simples, mas significativo: “Nosso tempo com as crianças em um orfanato local foi um ato de testemunho que não podemos subestimar”.
Cada pequeno gesto de empatia e assistência se transforma em um sinal de esperança, desafiando as narrativas de desespero e desconexão. A missão é clara: “Devemos ser testemunhas da caridade e da união, mostrando que a fé pode e deve se traduzir em ações concretas”, conclui o reitor.
Em resumo, a busca por paz e reconciliação no Oriente Médio é um caminho repleto de desafios, mas também de esperança. A comunidade do seminário do Patriarcado Latino de Jerusalém continua a lutar por um futuro onde a dignidade humana e a justiça prevaleçam em meio à dor e ao sofrimento.