O legado de Muhammad Ali, um dos maiores boxeadores da história, continua a ser celebrado e discutido em várias esferas, especialmente em um momento atual em que os direitos civis e a resistência política ainda são temas relevantes. Neste contexto, um item icônico será leiloado na casa Christie’s: o cartão de alistamento militar que o atleta se recusou a assinar em 1967, em protesto contra a Guerra do Vietnã.
O histórico do documento em leilão
O cartão, que pode alcançar um preço estimado de até US$ 5 milhões (aproximadamente R$ 27 milhões), apresenta o nome de nascimento de Ali, Cassius Marcellus Clay Jr., sendo grafado incorretamente como “Marsellus”. O leilão visa não apenas arrecadar fundos, mas também perpetuar a memória de um homem que desafiou normas sociais e políticas ao se recusar a se alistar nas forças armadas dos Estados Unidos.
A recusa de Muhammad Ali e suas consequências
A decisão de Muhammad Ali de não se alistar foi vista como um ato de rebeldia contra o recrutamento forçado e a política externa americana da época. Em suas palavras, “não tenho nenhuma rixa com os vietcongues”, isso se tornou um mantra na luta contra a injustiça da guerra. Como resultado de sua recusa, o boxeador foi condenado por evasão ao recrutamento, teve seu título de campeão cassado e ficou fora dos ringues por três anos. Essa decisão não apenas o afetou pessoalmente, mas também abriu um importante debate sobre liberdade de expressão e objeção de consciência.
O retorno de Ali e suas lutas icônicas
Em 1971, a Suprema Corte dos EUA reverteu, por unanimidade, a condenação de Ali, reconhecendo seu direito à objeção de consciência por motivos religiosos. Essa vitória não apenas marcou o retorno do atleta ao boxe, mas também solidificou sua imagem como um ícone de resistência política e justiça social. A luta que se seguiu contra Joe Frazier, conhecida como a “Luta do Século”, foi um ponto de virada na história do boxe e um marco na sociedade americana.
O impacto da vida e carreira de Muhammad Ali
Nascido em 1942, em Louisville, Kentucky, Muhammad Ali foi tricampeão mundial dos pesos pesados e é amplamente considerado o maior boxeador de todos os tempos. Sua habilidade no ringue e seu ativismo social fora dele o tornaram uma figura respeitável globalmente. Ele não apenas conquistou títulos, mas também se tornou uma voz ativa na luta contra o racismo e a guerra, tornando-se um defensor dos direitos civis.
Ali foi admirado tanto por suas conquistas esportivas quanto por sua eloquência no discurso. Ele foi nomeado “Personalidade Esportiva do Século” pela BBC e “Esportista do Século” pela Sports Illustrated. Sua luta contra George Foreman, no famoso “Rumble in the Jungle”, é uma das mais lembradas na história do boxe, e entidades esportivas continuam a celebrar sua memória até hoje.
Além do ringue: legado humanitário
Mesmo após a sua aposentadoria, Ali permaneceu ativo nas causas humanitárias, dedicando seu tempo a diversas iniciativas em prol da paz e do entendimento intercultural. Ele enfrentou problemas de saúde ao longo de sua vida, sendo diagnosticado com a doença de Parkinson, que o levou a falecer em 2016. Seu funeral, que atraiu cerca de 100.000 pessoas a Louisville, simbolizou o impacto que ele teve globalmente.
Leilão e a importância do documento
O cartão que irá a leilão está atualmente em exibição no Rockefeller Center, em Nova York. Em declaração, a filha de Ali, Rasheda Ali Walsh, ressaltou que o leilão não é apenas uma transação comercial, mas uma forma de lembrar e honrar a coragem e a convicção do pai em um período em que essas qualidades são ainda mais necessárias. A Christie’s descreveu o item como “um objeto singular associado a um evento histórico que transcende o esporte”.
Os lances do leilão já começaram, com propostas a partir de £2,24 milhões (aproximadamente R$ 16,2 milhões), e o resultado deve ser anunciado no final deste mês. Essa venda não só representa um momento de celebração do legado de Muhammad Ali, mas também uma oportunidade de os colecionadores e admiradores se conectarem com a história e a coragem de um ícone mundial.