O jornal vaticano “L’Osservatore Romano” trouxe à luz trechos do prefácio inédito do Papa Francisco para o livro “Vivir y pensar el Dios de los pobres”, a mais recente obra do Pe. Gustavo Gutiérrez, falecido há quase um ano. Este livro, que foi postumamente publicado sob a curadoria de Leo Guardado e traduzido do espanhol para o italiano por Marta Pescatori, é uma homenagem ao profundo impacto que Gutiérrez teve na teologia e na vida da Igreja, especialmente no que diz respeito aos pobres.
A importância de Gustavo Gutiérrez na Igreja
Durante sua vida, Gustavo Gutiérrez foi um defensor fervoroso dos necessitados e seu trabalho teológico ainda ressoa fortemente na atualidade. No prefácio, o Papa Francisco expressa sua admiração pelo legado do teólogo: “Gustavo Gutiérrez, durante a sua longa vida, foi um servo fiel de Deus e um amigo dos pobres”. Ele ressalta a teologia de Gutiérrez como um testemunho vital que continua a inspirar e abrir caminhos para o seguimento de Jesus.
O pontífice não apenas lembra da vida e obra de Gutiérrez, mas também destaca a relevância de sua teologia em um contexto que clama por justiça e compaixão. A profunda reflexão de Gutiérrez sobre a condição dos pobres é apresentada como um questionamento essencial a todos os cristãos: “Como podemos falar de Deus a partir do sofrimento do inocente?” Esta pergunta permanece premente, especialmente diante das injustiças que permeiam a sociedade contemporânea.
O impacto do Concílio Vaticano II na obra de Gutiérrez
O Papa menciona a influência do Concílio Vaticano II em moldar a trajetória teológica de Gutiérrez. O concílio, que promoveu uma reorientação da Igreja, forneceu um solo fértil para que suas inquietações e convicções fossem desenvolvidas. Francisco destaca que, com a “irrupção dos pobres”, um novo modo de viver a fé e ser Igreja foi exigido, fruto das reflexões e das experiências de vida das comunidades. Para Gutiérrez, a opção preferencial pelos pobres deve ser central em toda ação e reflexão da Igreja.
Teologia da Libertação e o chamado à ação
A teologia de Gustavo Gutiérrez, também conhecida como Teologia da Libertação, convida os fiéis a não apenas reconhecerem a pobreza, mas a se comprometerem ativamente em transformá-la. O pontífice relembra que a experiência de Gutiérrez com a dor e a luta dos marginalizados se traduz em uma obra que vai além da coleta de recursos; é um chamado à ação e à solidariedade que ressoam com as palavras de Paulo: “Deus ama os pobres”.
Um legado que perdura
Gutiérrez deixa um legado que não deve ser visto como um tesouro do passado, mas como um contínuo desafio de ação e reflexão. O Papa Francisco conclui seu prefácio ressaltando que a lembrança dos pobres deve ter um papel central na missão da Igreja. Relembrando as palavras de Bartolomé de Las Casas, ele convoca todos a ter uma “recordação muito próxima e viva” dos necessitados, afirmando que a inclusão e o amor ao próximo são a essência da mensagem cristã.
Com a publicação deste livro, Papa Francisco e a obra de Gutiérrez se unem em uma proposta crucial para o futuro da Igreja: um convite incessante a viver e pensar a partir da realidade dos pobres e marginalizados, sempre buscando um Deus que abraça toda a criação. “Este é o Deus de Jesus”, finaliza o Papa, ressaltando a universalidade do amor divino que deve ser celebrado e vivido em cada momento.
A obra completa está disponível para leitura, proporcionando aos fiéis e interessados uma rica fonte de reflexão sobre a prática da fé e a importância do compromisso com os mais necessitados.