Nos últimos meses, o presidente americano Donald Trump intensificou suas ações na América Latina, envolvendo desde ameaças à Venezuela até ofensas ao governo colombiano. Especialistas acreditam que há interesses geopolíticos por trás dessas ações, voltados ao controle de recursos estratégicos, como petróleo e terras-raras, especialmente o lítio, abundante na região.
Contexto e estratégias dos EUA na América Latina
Segundo Leandro Consentino, cientista político do Insper, os Estados Unidos sempre tiveram uma forte influência na América Latina, ora pelo soft power, durante o governo Obama, ora pelo hard power, agora na gestão de Trump. “No momento em que disputam influência com a China, os EUA querem demonstrar que não tolerarão ingerências no seu ‘quintal'”, afirma. Apesar das retóricas mais agressivas de Trump em relação à Venezuela e à Colômbia, ele não deve entrar em conflito terrestre, avalia o especialista.
Questões econômicas e controle de recursos
Roberto Moll Neto, historiador da Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta que, além da geopolítica, interesses econômicos de fato impulsionam as ações americanas na região. “O petróleo e as terras-raras, como o lítio, que é abundante na América Latina, estão no centro do interesse”, explica. O embate pelo fornecimento desses minerais críticos entre China e Estados Unidos soma-se às ameaças de intervenção na Venezuela, que têm como objetivo atender ao lobby da indústria bélica, que chegou a ser fortemente impactada pela política de Trump de evitar guerras fora do país.
Implicações para o Brasil e o cenário regional
O posicionamento do Brasil diante dessa estratégia é delicado. Como maior potência regional, o país enfrenta o dilema de não se envolver diretamente, sob o risco de perder influência, ou de falar contra as ações americanas e prejudicar o diálogo com os EUA. Moll destaca que a ação dos EUA pode afetar a legitimidade do Brasil como potência na América do Sul, além de aumentar o fluxo de refugiados em caso de conflito na Venezuela ou na Colômbia, prejudicando a estabilidade regional.
Mediação e diplomacia
Para Consentino, a melhor postura do Brasil é a de imparcialidade, podendo atuar como mediador em conflitos na região. Segundo ele, essa estratégia pode ajudar o país a se reposicionar perante os Estados Unidos e fortalecer sua atuação diplomática, especialmente em relação à Venezuela.
Posicionamento brasileiro e desafios diplomáticos
O governo brasileiro, até o momento, adotou uma postura de crítica à Venezuela e solicitou documentos para justificar eleições, mas não avançou em uma defesa robusta da democracia na região. O especialista da UFF defende que uma postura de mediação e defesa da soberania e da democracia seria mais adequada, evitando o envolvimento direto em conflitos que possam prejudicar a estabilidade do Brasil.
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