A situação na Faixa de Gaza é uma montanha-russa emocional, onde, entre tentativas de retomar a normalidade, a população ainda enfrenta uma realidade dramática. Embora algumas padarias estejam reabrindo e produtos estejam gradualmente voltando às prateleiras, a ajuda humanitária continua limitada. O trabalho da ONG WeWorld Palestina é essencial nesse contexto, evidenciando a persistente emergência humanitária, marcada pela falta de água, alimentos e remédios.
A escassez de recursos básicos
Em Gaza, os impactos dos conflitos deixaram cicatrizes profundas. As cozinhas comunitárias têm voltado a oferecer pão e refeições, mas o número de caminhões de ajuda humanitária que entram na região permanece drasticamente abaixo do que foi acordado com Israel. Assim, a luta pela sobrevivência diária continua, com muitos habitantes enfrentando a falta de água potável e saneamento básico como consequências diretas dos bombardeios que destruíram as infraestruturas essenciais.
De acordo com Giovanna Fotia, diretora da WeWorld na Palestina, cerca de 96% da população de Gaza foi deslocada ao menos uma vez desde 2023, resultando em um ciclo interminável de deslocamentos frequentes, muitas vezes sob fogo cruzado. A maioria desses deslocados vive em abrigos improvisados e, apesar das reaberturas de alguns mercados, o alto custo dos alimentos torna a sobrevivência ainda mais desafiadora.
A experiência dos deslocados
As histórias de famílias que foram forçadas a abandonar suas casas repetidamente são, no mínimo, desoladoras. A cada deslocamento, os habitantes têm suas vidas interrompidas e são obrigados a recomeçar do zero, muitas vezes sem poder armazenar seus pertences. “As pessoas estão exaustas, fisicamente e emocionalmente”, afirma Fotia.
A WeWorld, junto com outras ONGs, se dedica a distribuir ajuda em diversas áreas, mas ainda enfrenta grandes desafios. O documentário “Everyday in Gaza”, produzido pela ONG, ilustra as vivências de uma família local, mostrando a dor do recomeço contínuo e a luta pela sobrevivência.
Condições de vida desesperadoras
A situação das crianças é particularmente preocupante. Recentemente, o Unicef alertou que 55% das famílias já esgotaram os estoques de comida infantil, e a desnutrição entre as crianças continua a aumentar. Muitas delas passam dias sem se alimentar adequadamente, um cenário inaceitável e alarmante.
No entanto, mesmo diante de todas essas adversidades, a WeWorld se esforça para oferecer um mínimo de normalidade às crianças, organizando atividades recreativas e educacionais. Esses momentos são fundamentais para o desenvolvimento emocional e psicológico, apesar das dificuldades enfrentadas.
A ajuda humanitária e seus desafios
Embora a reabertura de algumas padarias tenha trazido um pequeno alívio à população, a entrada de ajuda humanitária continua a ser um entrave significativo. “Estamos ainda muito abaixo dos números esperados de caminhões de ajuda humanitária”, precisa Fotia. Somente duas passagens estão abertas, limitando severamente a entrada de recursos essenciais.
As autoridades humanitárias locais também têm pedido a reabertura de todas as passagens para facilitar o transporte de bens essenciais, especialmente com a chegada do inverno, que promete ser rigoroso. “Precisamos urgentemente de cobertores e roupas de frio para a população”, enfatiza Fotia, ressaltando que muitos vivem em condições inadequadas para suportar baixas temperaturas.
A resposta da ONU e as promessas de ajuda
A ONU também reconhece a magnitude do desafio. Tom Fletcher, chefe das operações humanitárias da ONU, se referiu a esse momento como “um desafio imenso”. Durante sua visita a Gaza, ele descreveu a cidade como um “cenário de escombros”, evidenciando a necessidade urgente de ações coordenadas para restaurar a infraestrutura básica e fornecer alimentação adequada.
Fletcher apresentou um plano ambicioso para intensificar a distribuição de alimentos e reconstruir o sistema de saúde e as escolas. Essa intervenção é crucial para a recuperação da população, que aguarda ansiosamente a implementação prática dessas promessas, enquanto lidam com a incerteza e o desespero no dia a dia.
Em conclusão, Gaza se encontra em uma encruzilhada delicada, entre os esforços para resgatar o que resta de dignidade e a luta constante por recursos básicos. O apoio humanitário continua sendo sua única esperança para um futuro mais seguro e estável.