Brasil, 21 de outubro de 2025
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A morte da cultura monocromática: por que ninguém será como Michael Jackson ou os Beatles — nem mesmo Taylor Swift

A cultura de celebridades mudou radicalmente: o sucesso hoje é fragmentado e personalizado, tornando quase impossível alcançar a fama universal do passado.

Nesta semana, um tweet que dizia que Taylor Swift poderia estar agora maior do que Michael Jackson foi rapidamente apagado após críticas nas redes sociais. Apesar de sua ascensão meteórica, especialistas reforçam que ninguém mais atingirá os níveis de fama global que artistas como MJ, os Beatles ou Madonna conquistaram há algumas décadas. A mudança, porém, não está no talento ou na ambição, mas na própria natureza da cultura de celebridades pós-internet.

A era da monocultura e o impacto da ausência de algoritmos

Antes do boom das redes sociais entre 2004 e 2010, vivíamos em uma cultura monocromática, onde a maioria compartilhava experiências culturais semelhantes. Assistíamos aos mesmos filmes — que estavam em cartaz — e acompanhávamos programas de TV com poucos canais disponíveis, que consolidavam audiências massivas.

Na música, artistas como os Beatles, Michael Jackson e Madonna dominavam o cenário de forma absoluta. Seus feitos, como a participação dos Beatles no Programa de Ed Sullivan em 1964, que alcançou mais de 73 milhões de telespectadores, e o álbum Thriller, de MJ, que virou um fenômeno global, uniam multidões que falavam a mesma língua cultural.

Por mais que existisse uma cena alternativa — com cinemas indie, shows menores e lojas de discos especiais —, ela exigia um esforço consciente de busca, pois não havia algoritmos para recomendar conteúdo. Assim, o alcance e a influência desses ícones eram inevitáveis, criando experiências coletivas únicas e inesquecíveis.

O crescimento da diversidade e a fragmentação cultural

Hoje, o cenário mudou completamente. Em uma era de excesso de conteúdo e de algoritmos altamente personalizados, o conceito de fama se tornou diluído. É possível que alguém seja famoso dentro de uma subcultura — como canais de gaming, política ou lifestyle — sem que grande parte do público geral saiba quem é essa pessoa.

Por exemplo, recentemente, um amigo meu não fazia ideia de que “Bad Blood” era uma música de Katy Perry. Uma hipótese que parecia evidente para muitos fãs de pop conservava um ecossistema próprio, separado do restante do mundo.

Fama fragmentada e as bolhas de conteúdo

Essa fragmentação não se limita à música. Hollywood, antes uma fonte de estrelas universalmente reconhecidas, hoje é um mosaico de nomes que têm seu valor dentro de suas próprias audiências. Pessoas como Timothée Chalamet podem ser considerados ícones para certos públicos, mas totalmente desconhecidos para o restante.

Além disso, os algoritmos criam câmaras de eco, em que os fãs acreditam que seus ídolos têm uma relevância maior do que realmente. Isso ocorre porque as redes sociais alimentam essas percepções, apresentando conteúdos que reforçam uma visão distorcida da popularidade.

O impacto na percepção do estrelato

Assim, Taylor Swift, apesar de seu sucesso indiscutível, vive em uma cultura fragmentada, onde seu impacto é profundo em seus fãs, mas irrelevante para quem está em uma outra bolha digital. Diferente das estrelas do passado, que eram fenômenos de massa incomparáveis, ela ocupa um espaço de influência que se espalha em múltiplas redes de subculturas.

Esse fenômeno reforça a ideia de que o conceito de fama universal não existe mais na era digital. O mundo se tornou uma coleção de realidades paralelas, onde cada grupo compartilha suas próprias referências e ídolos, sem uma experiência cultural coletiva que unifique todos.

Consequências sociais e culturais dessa nova ordem

A fragmentação digital desafia não só a mídia de entretenimento, mas também conceitos mais amplos, como política e ideologia. Quando estamos isolados em bolhas, ficamos cegos a opiniões contrárias e perdemos a noção do panorama real do mundo, tornando a sociedade mais individualista e insular.

Nesse contexto, a celebração de uma única figura global, como as estrelas do passado, dá lugar a uma multiplicidade de celebridades menores, cada uma amplamente conhecida em seus nichos, mas com impacto global limitado.

O novo culto—fidedigno, porém fragmentado

Em resumo, a mudança do monoculture para um universo de feeds personalizados e algoritmos direcionados garante um tipo de fama mais democratizado, mas também mais disperso. A atenção deixou de convergir para poucos ídolos compartilhados por todos, criando uma rede de pequenas estrelas que brilham em suas próprias constelações.

Portanto, embora o sucesso de artistas como Michael Jackson ou os Beatles pareça inigualável, essa era de hiperfragmentação social e cultural impede que qualquer artista alcance o fenômeno de massa que marcou décadas passadas. A fama, hoje, é uma tapeçaria de focos específicos — uma realidade mais íntima, porém menos coletiva.

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