Nos centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro, a paisagem está mudando com a instalação crescente de torres de vigilância equipadas com câmeras. Esses dispositivos, que se tornaram comuns em condomínios e edifícios comerciais, prometem aumentar a segurança, mas também levantam sérias preocupações sobre privacidade e eficácia na redução do crime.
Crescimento da vigilância em áreas urbanas
Desde 2019, o aumento das torres de vigilância tem sido notório, especialmente após o uso de câmeras com reconhecimento facial durante os carnavais de Salvador e do Rio de Janeiro. Conforme apontam especialistas como Pablo Nunes, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), essa expansão acontece em um período em que a insegurança é uma das principais preocupações da população, conforme pesquisa da Quaest encomendada pela Genial Investimentos.
As torres são comercializadas por empresas como CoSecurity, Gabriel e White Segurança, que oferecem um monitoramento constante da área ao redor. Os moradores têm acesso às imagens por meio de aplicativos, com a opção de armazenamento por até 14 dias, e a possibilidade de acionar a polícia ou o Corpo de Bombeiros em situações de emergência com um botão de pânico.
Funcionamento e custos das torres de vigilância
Os modelos disponíveis variam em custo, com preços que podem alcançar até R$ 1,5 mil por unidade ao mês. Apesar de muitas delas não realizarem reconhecimento facial, proclama-se a integração com programas públicos como Smart Sampa e Muralha Paulista, facilitando a identificação de criminosos e veículos roubados. Em São Paulo, a iniciativa já conta com aproximadamente 40 mil câmeras, sendo uma significativa parte delas provenientes de condomínios e empresas parceiras.
A eficácia e a ética da tecnologia de vigilância
No entanto, a eficácia dessas torres não é unanimemente aceita. Pesquisadores em segurança pública, como Daniel Edler do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP), questionam a falta de regulamentação e a preocupação com a utilização indevida dos dados. “Não há regras claras que garantam a privacidade e segurança dos cidadãos em relação a essas imagens,” afirma Edler.
Especialistas também alertam para o risco de que informações coletadas por essas câmeras possam ser utilizadas para finalidades não autorizadas, como vigilância corporativa. Além disso, há relatos de fracassos em sua atuação, com casos em que torres de vigilância foram incapazes de impedir delitos como furtos.
Responsabilidade e controle dos dados
A ausência de transparência sobre o uso dos dados gerados pelas câmeras é outro ponto de preocupação. “Estamos lidando com empresas privadas que monitoram a vida de muitas pessoas. É fundamental que haja um controle rigoroso do acesso a essas informações, para que não sejam utilizadas de forma indiscriminada,” alerta Rafael Rocha, coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz.
Adicionalmente, a situação é agravada pela falta de uma padronização técnica, o que pode permitir que dados sensíveis sejam compartilhados informalmente, como imagens de suspeitos distribuídas em grupos de WhatsApp, criando um ambiente propício a abusos e vigilância extralegal.
Perspectivas futuras
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) reconhece a importância do tema e já aponta para o desenvolvimento de diretrizes que envolvem a biometria facial e o uso de tecnologias de vigilância. No entanto, muitos consideram que é necessário agir com urgência para garantir a privacidade e a segurança dos cidadãos diante do avanço das tecnologias de monitoramento.
Enquanto as torres de vigilância prometem um aumento na segurança pública, as dúvidas sobre sua eficácia, regulamentação e o uso dos dados pessoais permanecem no centro do debate. Especialistas e cidadãos continuam a questionar: até onde vai o limite da vigilância em nome da segurança?