O Planalto está se preparando para uma batalha política ao insistir na indicação do deputado Odair Cunha (PT-MG) para a próxima vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). A expectativa é que a Câmara escolha um novo nome para a Corte no primeiro semestre de 2026, mas a articulação para a indicação deve ser finalizada ainda este ano antes do recesso parlamentar.
A articulação política em torno do TCU
Odair Cunha, conhecido por sua habilidade de dialogar com partidos do centrão, teve sua indicação ao TCU promovida em um contexto de negociação em que o PT buscava apoio na eleição do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Contudo, os recentes embates entre o Planalto e o Congresso trouxeram à tona novos desafios, colocando a indicação do deputado em risco. Um ala do Centrão agora começa a considerar outras possibilidades.
A relação entre o governo e o Centrão deteriorou-se, especialmente após a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, que desencadeou uma crise de imagem. Esta tensão aumentou ainda mais quando o Planalto optou por cortar cargos que haviam sido indicados por deputados que se opuseram à Medida Provisória (MP) 1303/2025, a qual previa um aumento de tributos e ampliava a arrecadação. Segundo lideranças da Câmara, essa decisão deixou evidente o descontentamento do Centrão com o governo.
Estratégia do governo para fortalecer sua posição
A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que a estratégia do governo consiste em redistribuir as indicações ministeriais, priorizando deputados que têm votado favoravelmente às propostas governamentais. O plano é manter a mesma cota de cargos para cada partido, mas com uma reallocação que favoreça aqueles que podem ser aliados na formação de uma base sólida para as eleições de 2026.
O presidente da Câmara, Hugo Motta, será o responsável por coordenar essa partilha de cargos, em uma tentativa do governo de fortalecer sua posição no Legislativo e, ao mesmo tempo, promover a candidatura de Odair Cunha ao TCU. Com essa distribuição estratégica, o Palácio do Planalto espera gastar menos energias em uma disputa acirrada e conseguir montar uma base de apoio sólida.
Nomeação e desafios no campo legislativo
Nos bastidores do Congresso, dois principais grupos de nomes começam a ser cogitados para a disputa pela vaga no TCU. Um deles é composto por parlamentares do União Brasil, que rompeu com o governo e busca desafiar a administração de Lula. Nessa lista estão os deputados Danilo Forte (CE) e Elmar Nascimento (BA), ambos com uma inclinação mais próxima da oposição.
O outro grupo inclui representantes do PSD, liderado por Gilberto Kassab, que tem um pé em cada lado, tanto no governo quanto na oposição. Entre os nomes que circulam, destacam-se os deputados Pedro Paulo (RJ) e Hugo Leal (MG), que têm boa interlocução com a base governista.
A próxima vaga no TCU será aberta em função da aposentadoria do ministro Aroldo Cedraz, que completará 75 anos e terá que se aposentar compulsoriamente em fevereiro de 2026. Com essa mudança, a disputa pelo cargo se intensifica, e a articulação entre os poderes será fundamental para definir o futuro do TCU e da relação entre o governo e o Centrão.
O desenrolar desta situação poderá impactar não apenas a indicação de Odair Cunha, mas também a dinâmica política nos meses que se seguem. A disputa no atual cenário político, marcado por tensões e troca de farpas entre os partidos, promete criar novos desdobramentos e alianças inesperadas nas rodadas de negociação da próxima vaga do TCU.
Assim, o governo se vê em um cenário delicado, onde precisa equilibrar a manutenção de sua base aliada com a necessidade de garantir uma representação no TCU que seja favorável às suas pautas e interesses. A luta por apoio dentro do legislativo se torna, portanto, um aspecto crucial na condução do governo, especialmente à medida que se aproximam as eleições de 2026.
Com a situação ainda em evolução, será essencial observar as movimentações do Planalto e de seus aliados nas próximas semanas, enquanto a data da aposentadoria de Aroldo Cedraz se aproxima e a pressão por uma decisão se intensifica.