Na manhã deste sábado, o Papa Leão XIV recebeu, na Sala Clementina, no Vaticano, 150 membros do Conselho Nacional Anti-Usura, em uma audiência que celebrou os 30 anos de existência da entidade. O Pontífice destacou a importância do trabalho realizado ao longo dessas três décadas, enfatizando o impacto devastador da usura na vida de muitas pessoas e famílias.
A gravidade da usura e suas consequências
Em seu discurso, o Santo Padre lembrou que a usura é um problema que não é novo e está profundamente enraizado na história da humanidade, sendo descrito nas escrituras como uma prática condenada pelos profetas, que se opunham à exploração e a qualquer forma de injustiça em relação aos pobres. “Os sistemas financeiros usurários podem colocar povos inteiros de joelhos”, alertou o Papa.
O fenômeno da usura é, segundo o Pontífice, um reflexo da corrupção do coração humano. Ele sublinhou que essa prática não deve ser vista apenas como uma questão financeira, mas como um grave pecado moral. O sofrimento causado pela usura pode levar muitas pessoas a enfrentar crises agudas, levando-as a considerar o suicídio como uma solução para a dor extrema que sentem.
Uma prática que afeta os mais vulneráveis
Leão XIV salientou que a dinâmica negativa da usura se manifesta em vários níveis, muitas vezes sob a aparência de ajuda. “Um tipo de usura busca aparentar assistência financeira, mas rapidamente se transforma em um fardo sufocante”, disse o Papa. Ele fez uma menção especial às vítimas de práticas usurárias que, frequentemente, são pessoas que já enfrentam dificuldades, como doentes que precisam de tratamentos médicos extraordinários ou famílias que têm despesas inesperadas além de suas possibilidades.
O Pontífice apontou que esses sistemas podem levar a crises em grande escala, arruinando não apenas famílias, mas até mesmo comunidades inteiras. Ele condenou veementemente as práticas usurárias que encontramos no comércio, culpando-as por causar fome e morte entre as pessoas.
A dignidade humana em jogo
O Papa fez uma reflexão profunda sobre a dignidade humana, questionando: “Os menos dotados não são seres humanos? Os mais fracos não têm a mesma dignidade que nós?”. Para Leão XIV, a forma como a sociedade responde a essas questões determina seu valor moral e espiritual. Ele enfatizou a necessidade urgente de restabelecer essa dignidade, para evitar que as sociedades se imerjam em um poço de degradação moral.
“A obra daqueles que se empenham no combate à usura é de extrema importância e valor”, afirmou o Santo Padre, reconhecendo o papel essencial do Conselho Nacional Anti-Usura. O trabalho desenvolvido por essa instituição se alinha com o espírito do Jubileu e serve como um sinal de esperança em um mundo marcado por desigualdades e injustiças.
O exemplo de Zaqueu
Para ilustrar sua mensagem, o Papa convidou os presentes a refletir sobre a atitude de Jesus em relação a Zaqueu, um chefe dos publicanos que explorava os outros. Zaqueu, através do encontro com Cristo, experimentou uma transformação de coração, restituindo quatro vezes mais aos pobres o que havia injustamente tomado. O Papa concluiu que a conversão dos usurários é tão essencial quanto a solidariedade com aqueles que sofrem devido a essa prática opressora.
Ao final da audiência, o Santo Padre encorajou todos a continuar o trabalho de conscientização e combate à usura, afirmando que essa luta é crucial para restaurar a dignidade e a justiça na sociedade. Com isso, ele reafirmou o compromisso da Igreja em estar ao lado dos que sofrem e em promover uma cultura de solidariedade e respeito à dignidade humana.
O discurso do Papa Leão XIV foi um poderoso apelo à consciência coletiva, refletindo a urgência de enfrentar a usura sob todas as suas formas, como um crime contra a humanidade, que deve ser combatido com determinação e compaixão.
Leia mais sobre a audiência e a luta contra a usura [aqui](https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-10/papa-leao-xiv-audiencia-conselho-anti-usura-jubileu-30-anos.html).