O Cerrado, reconhecido como o “coração das águas” do Brasil, é um bioma rico não apenas em biodiversidade, mas também em uma variedade de culturas e modos de vida que buscam a harmonia com a natureza. Um novo levantamento da plataforma Povoado revelou que existem 6.767 comunidades dentro deste bioma, sendo 2.641 delas reconhecidas como Povos e Comunidades Tradicionais. Nesse estudo realizado ao longo de quatro anos, ficou evidente que o Cerrado não é um vazio demográfico, mas sim uma área repleta de vida e diversidade cultural.
A diversidade no Cerrado
De acordo com Yuri Salmona, diretor executivo do Instituto Cerrados, os dados obtidos mostram que o Cerrado abriga uma rica sociobiodiversidade. Essas comunidades estão espalhadas por 480 municípios em 13 estados do Brasil e representam 21 segmentos diferentes, incluindo grupos como quilombolas, indígenas, comunidades de terreiro e outros.
Com 1.015 registros de comunidades quilombolas, 616 indígenas, 248 de terreiro, 237 geraizeiros, 109 ribeirinhos e 88 de fundo e fecho de pasto, é possível perceber a pluralidade cultural e os modos de vida que se entrelaçam neste bioma. Além disso, a pesquisa também gerou dados sobre Povos Rurais e Camponeses, com 4.126 registros, que estão diretamente ligados à produção primária.
Modos de vida que preservam o bioma
As práticas coletivas e territoriais dessas comunidades são essenciais para a conservação da água, biodiversidade e clima no Cerrado, mesmo na ausência de um reconhecimento formal de seus territórios. A preservação de práticas sustentáveis que são transmitidas de geração para geração demonstra um compromisso com a proteção do meio ambiente.
No Cerrado, o modo de vida tradicional se traduz em práticas agrícolas que respeitam a natureza e garantem a produção de alimentos de forma sustentável. Por exemplo, as comunidades realizadas na coleta de sementes nativas e na agricultura familiar são exemplos concretos do equilíbrio entre desenvolvimento humano e preservação ambiental.
Os estados mais representados
Minas Gerais lidera com 2.115 comunidades, seguido por Mato Grosso com 960, Goiás com 882, Maranhão com 821 e Tocantins com 710. Essa distribuição evidencia que a cultura do Cerrado está intimamente ligada à sua geografia e recursos naturais.
Comunidades tradicionais no Distrito Federal
Apesar de ser uma região mais urbanizada, o Distrito Federal abriga mais de 200 comunidades tradicionais, das quais 203 se reconhecem como Povos e Comunidades Tradicionais. Os segmentos presentes no DF incluem quilombolas, indígenas e agricultores familiares, ressaltando a densidade de movimentos culturais que resistem em meio à urbanização.
Com isso, a presença desses grupos torna-se crucial para a construção de políticas públicas voltadas à proteção cultural e ambiental. “A luta é celebrar a diversidade dos povos, que é a nossa verdadeira riqueza”, afirma André de Moraes, coordenador da iniciativa Tô no Mapa, a qual complementa a plataforma Povoado.
Acessando a plataforma Povoado
Disponível para o público, a plataforma Povoado oferece consultas interativas por estado, município e segmento, permitindo um melhor entendimento sobre a distribuição das comunidades no Cerrado. O projeto surgiu como um desdobramento da aplicação “Tô no Mapa”, que facilita o automapeamento dos territórios ocupados por agricultores familiares e comunidades tradicionais.
A base de dados é uma ferramenta poderosa que pode subsidiar políticas públicas relacionadas à demarcação de terras, licenciamento ambiental e proteção cultural. Assim, a visibilidade trazida pela plataforma pode ajudar a fundamentar iniciativas de conservação e desenvolvimento sustentável no Cerrado.
Conforme afirmado por André de Moraes, a luta das comunidades é um reflexo da riqueza social, biológica e cultural que elas representam. A valorização e o reconhecimento desses modos de vida são essenciais para garantir a proteção desse bioma, tentando mitigar os impactos do desmatamento, que já consumiu 40 milhões de hectares nos últimos 40 anos.
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