A reunião realizada na última quinta-feira, em Washington, entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, não tratou de temas relacionados ao BRICS nem da proposta brasileira de reduzir a dependência do dólar nas operações comerciais internacionais. Segundo interlocutores do governo Lula, essas questões, consideradas sensíveis pela Casa Branca, foram evitadas durante o encontro.
Foco na retomada das relações comerciais bilateralmente
De acordo com participantes do encontro, o principal objetivo foi fortalecer as relações econômicas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos em um momento de reaproximação diplomática. O resultado da reunião foi informado ao presidente Lula pelo chanceler Mauro Vieira nesta sexta-feira. Os dois países discutiram também os preparativos para um possível encontro entre Lula e Donald Trump, ainda sem data definida.
Preparativos para encontro entre Lula e Trump
Os interlocutores afirmam que há pelo menos três possibilidades para uma reunião bilateral até o fim do ano. Lula estará na Malásia entre os dias 25 e 27 de agosto, coincidentemente com a presença de Trump no país. Caso a conversa não ocorra na ocasião, há uma janela entre 11 e 19 de novembro, após a participação de Lula na COP-28, em Dubai, antes do G20 na África do Sul e da cúpula do Mercosul.
Perspectivas para a Cúpula das Américas e contatos futuros
A participação do Brasil na Cúpula das Américas, prevista para dezembro na República Dominicana, ainda é incerta, especialmente devido à decisão de não convidar Cuba, Venezuela e Nicarágua. Essa exclusão provoca críticas e aumenta a possibilidade de Lula não comparecer ao evento. Ainda assim, há esforços para realizar uma reunião bilateral com os EUA antes do fim do ano.
Discussões econômicas e sanções
Na reunião em Washington, Mauro Vieira pediu a suspensão temporária das tarifas sobre produtos brasileiros enquanto prosseguem as negociações comerciais. O encontro também abordou questões relevantes como a investigação dos EUA contra o Brasil sob a Seção 301, que envolve temas de desmatamento, corrupção, regulamentação financeira e comércio ilegal. Segundo fontes do governo, a discussão foi exploratória, buscando definir novas bases para o diálogo bilateral, com temas técnicos sob responsabilidade do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR).
Contexto das tensões e interesses atuais
Desde julho, Washington impôs uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros, em retaliação às políticas comerciais do Brasil, além de aplicar uma tarifa adicional de 10% a outros países. O governo americano considera que o Brasil adota práticas comerciais “desleais”, e a investigação na Seção 301 busca apontar irregularidades, podendo levar a novas sanções. Durante a conversa, ambos os lados evitaram mencionar o ex-presidente Jair Bolsonaro, focando na retomada das negociações comerciais.
Repercussões e expectativas
Analistas veem a reunião como um passo inicial importante na tentativa de reconstruir laços diplomáticos e econômicos entre Brasília e Washington. Diplomatas brasileiros acreditam que, embora o clima tenha sido cauteloso, há potencial para avanços concretos nos próximos meses, visando reduzir as tensões que marcaram os últimos anos na relação bilateral.
Mais detalhes sobre as próximas ações diplomáticas devem ser definidos em encontros técnicos e negociações que visam não apenas rever tarifas, mas também estabelecer uma base mais sólida para a cooperação futura entre os dois países.
Fonte: O Globo