O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), revelou ao GLOBO que o ex-presidente Jair Bolsonaro demonstrou interesse nas articulações em torno de um projeto de lei que visa a redução das penas dos condenados pelos atos de 8 de janeiro. Sóstenes fez a visita a Bolsonaro em sua casa em Brasília, onde o ex-presidente cumpre prisão domiciliar, e a conversa abordou questões políticas e eleitorais.
Interesse de Bolsonaro na redução de penas
Durante a visita, Sóstenes contou que Bolsonaro o questionou sobre o andamento do projeto e pediu detalhes sobre o texto em discussão na Câmara. “Bolsonaro me perguntou quantos anos reduzia o projeto de dosimetria. Eu disse que nem sabia”, comenta o parlamentar. Ele acrescentou que o PL pretende apresentar um destaque para aprovar uma anistia geral, ressaltando que a redução de penas não está em cogitação para ninguém no momento.
Essas declarações refletem a insatisfação da ala bolsonarista com o rumo da proposta relatada por Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que prevê apenas a redução das penas e não a anistia ampla que o PL deseja. A bancada do PL pretende aproveitar a tramitação do projeto — que foi aprovado em regime de urgência há um mês, mas está paralisado — para tentar reiniciar a discussão no plenário e inserir dispositivos mais abrangentes.
O impasse no Senado
A proposta enfrenta um impasse, pois depende do aval do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para avançar. Alcolumbre tem se mostrado cauteloso em relação a temas que possam gerar conflitos entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Nos bastidores, aliados do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendem que o projeto permaneça “em banho-maria”, até que o Senado demonstre disposição para votar. Existe o receio de que o projeto seja rejeitado da mesma forma que aconteceu com a PEC da Blindagem, que foi aprovada na Câmara, mas derrubada no Senado.
Apesar do bloqueio, o PL tenta manter o assunto em pauta entre seus membros. “Falamos um pouco de política, logicamente. Falamos de anistia. Dei o cenário para ele (Bolsonaro) como está. Falamos das derrotas que o governo teve, como por exemplo com a MP do IOF”, relatou Sóstenes. O deputado também frisou que Bolsonaro o orientou a seguir organizando sua equipe para vetar quaisquer iniciativas que possam gerar uma recomposição.
A saúde e o desprezo pelo isolamento
Durante a visita, Sóstenes descreveu que Bolsonaro aparentava estar mais disposto, embora continue incomodado com o isolamento. Segundo ele, “Senti Bolsonaro um pouco melhor da última vez que estive com ele. Não estava soluçando. O tempo vai passando e ele vai sentindo mais o isolamento. Está um pouco melhor de saúde. Voltou a fazer esteira esta semana. Está tomando shake e os medicamentos”, comentou o parlamentar.
Perspectivas eleitorais para 2026
Além das discussões sobre a redução de penas, a conversa também abordou articulações eleitorais para 2026. De acordo com Sóstenes, Bolsonaro se mostrou confiante de que sua esposa, Michelle Bolsonaro, deve disputar uma vaga no Senado pelo Distrito Federal, enquanto seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deve concorrer à cadeira em São Paulo. No entanto, a candidatura de Eduardo é considerada incerta, uma vez que ele está nos Estados Unidos desde fevereiro deste ano e enfrenta investigações relacionadas à sua articulação por sanções contra autoridades brasileiras.
“Falamos de quadros do Senado. Ele está convicto de que ela (Michelle) tem que ser senadora pelo DF e Eduardo no Senado em São Paulo”, afirmou Sóstenes.
Futuro político de Bolsonaro ainda indefinido
Sobre a eleição presidencial, Bolsonaro reiterou que ainda é cedo para discutir cenários. O núcleo duro do bolsonarismo defende que ele continue se apresentando como pré-candidato, mesmo inelegível, a fim de preservar seu capital político e manter o grupo mobilizado em torno de seu nome.
Com as articulações políticas e o futuro incerto, o cenário continua a ser monitorado de perto, tanto por aliados quanto por adversários, à medida que as movimentações no Congresso e a saúde política de Bolsonaro evoluem.