O cenário político brasileiro vive um momento decisivo, onde o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), desempenha um papel crucial na articulação entre o Planalto e o Congresso. Essa dinâmica se intensifica diante da busca pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para uma vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF). A questão não se limita apenas à escolha do novo ministro, mas abrange uma estratégia maior de governabilidade e relacionamento entre os poderes.
Alcolumbre e a votação dos vetos presidenciais
Na quinta-feira, Alcolumbre demonstrou sua influência ao adiar a votação de vetos ao projeto do novo licenciamento ambiental. Essa decisão, segundo fontes próximas ao governo, impediu a que o Executivo enfrentasse uma nova derrota no Congresso em um curto espaço de tempo. Essa manobra não apenas reforçou a posição de Alcolumbre, como também sublinhou a pressão que o governo enfrenta com a iminência da COP30, uma conferência climática mundial que acontecerá em Belém no próximo mês.
O adiamento da votação chega em um momento crítico, em que o governo busca evitar conflitos com os setores ambientalistas e, ao mesmo tempo, tentar colocar em prática um projeto que muitos consideram uma redução das proteções ambientais. Enquanto especialistas criticam a nova legislação, defensores alegam que ela pode acelerar processos de licenciamento, contribuindo para o desenvolvimento econômico.
A corrida pela vaga no STF
O contexto se complica ainda mais devido à aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso, cujo aceno à saída foi oficializado na quarta-feira. Alcolumbre, que já manifestou sua preferência pelo nome de Pacheco, está alinhado com Lula, que busca centralizar a escolha do novo ministro. O advogado-geral da União, Jorge Messias, é apontado como um dos favoritos para a nomeação, ao lado do ministro Bruno Dantas do Tribunal de Contas da União (TCU).
Pacheco, por sua vez, permanece cauteloso. Em declarações recentes, ele garantiu que não se oporia a uma indicação de Lula, mas destacou que respeitará o desfecho do processo. A expectativa é que a decisão do presidente seja em torno a um nome que preserve a autoridade do Supremo, um desejo transmitido pelos ministros presentes nas conversas com Lula.
O papel de Alcolumbre como mediador
A atuação de Alcolumbre vai além da mera articulação de votações. Ele se posiciona como mediador entre o governo e o Congresso ao tomar a dianteira nas negociações sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e no avanço das discussões acerca do Orçamento de 2026. Alcolumbre tem trabalhado para evitar atritos, e sua habilidade em dialogar com ministros do STF e interlocutores do governo é vista como um trunfo significativo em um cenário muitas vezes hostil.
Nas últimas semanas, o presidente do Senado também se reuniu com Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, para abordar a tensão sobre a aprovação do calendário de pagamento de emendas parlamentares. Enquanto o governo se esforça para responder às demandas do Legislativo, Alcolumbre busca equilibrar os interesses de sua base partidária e as necessidades do Executivo.
Expectativas do governo para a votação do novo licenciamento
O governo ainda enfrenta desafios significativos relacionados aos vetos do licenciamento ambiental. Com a senadora Tereza Cristina (PP-MS) à frente das negociações com a bancada ruralista, há possibilidade de que alguns vetos sejam mantidos, apesar da pressão pela derrubada integral. As discussões refletem o equilíbrio entre os interesses agrícolas e ambientais, uma questão sempre polarizadora no Brasil.
Além das negociações, a expectativa é que se não houver um acordo palpável nas próximas semanas, o governo Lula pode entrar com uma ação no STF, argumentando a inconstitucionalidade do projeto aprovado pelo Congresso, se for rejeitadado por completo. Essa pressão evidência a necessidade de Alcolumbre e do governo se alinharem, uma vez que um resultado desfavorável nas votações pode ter um impacto direto na imagem e na governabilidade de Lula.
No centro desta negociação está a influência crescente de Alcolumbre, que não apenas tenta moldar as agendas do Congresso, mas estabelece-se como uma peça chave na governabilidade do atual governo. À medida que o cenário se desenvolve, os próximos passos de ambos os lados serão cruciais para definir não só o futuro próximo do Senado, mas também a relação entre os diferentes poderes da República. O papel de Alcolumbre como mediador poderá definir o êxito do governo na aprovação de suas principais pautas e, por consequência, a estabilidade política no Brasil.